quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sobre homens de Deus e de outros homens


Sobre homens de Deus e de outros homens


Homens de Deus tendem a fragmentar mais do que integrar.
Homens de Deus sonham com incorporar o desconhecido. Não sabem ou não querem saber que integrar pressupõe conhecimento, pois o desconhecido não integra nada.
Homens de Deus não sabem ouvir. Quando alguém lhes fala, em vez de escutarem até o fim o que o locutor tem a dizer, logo começam a comparar o que está sendo dito com suas ideias e referenciais prévios. Ouvir até o fim, sem concordar nem discordar, é extremamente difícil para eles. Não sabem como lidar – mesmo de modo temporário com o pouco conhecido ou o desconhecido.
Homens de Deus geralmente operam dentro de um modelo mental chamado de automatismo concordo/discordo. 
Quando a singeleza perceptiva ou mesmo um arroubo emocional qualquer leva um ardoroso expectador à lançar-se na aventura de dialogar com um homem de Deus, de imediato esse último assume duas atitudes: a) “já sei o vão me dizer e concordo; portanto, não vou perder tempo ouvindo chuva no molhado”; b) “já sei o que vão me dizer e discordo; assim, não tenho mesmo porque ouvir até o fim”. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: homens de Deus costumam negar a quem lhes fala, a capacidade ou a possibilidade de dizer algo de novo – o que na prática pode corresponder à negação da existência de quem insistiu na tentativa de estabelecer contato com os mesmos. 
Homens de Deus não abrem mão de crenças arraigadas. Sabem exatamente como o mundo deve ser e abrigam certezas inabaláveis.
Homens de Deus confundem preconceitos com virtudes e trilham pelo estreito caminho que conduz à conclusão. 
Homens de Deus costumam ficar convencidos de que já sabem tudo sobre uma determinada pessoa, situação ou assunto. Convencem-se facilmente de que não há mais nada a aprender. Sempre que são defrontados com uma ideia ou situação nova, a tendência deles é compara-las de imediato com seus referenciais, isto é, tentam enquadra-las neles, reduzindo-as a eles. Assim, é fácil deduzir que quanto mais agarrados aos seus pressupostos, mais a percepção e compreensão deles se estreitam e se tornam obscuras. A fixação em determinadas ideias constitui o principal motivo dos homens de Deus serem tão resistentes ao novo e à mudança. As atitudes deles fecham portas e obscurecem caminhos.
Se os homens de Deus pudessem suspender – ainda que temporariamente seus pressupostos – um mundo novo se abriria diante da percepção deles e perspectivas inéditas se tornariam possíveis. 
 Vassum Crisso - MG

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