segunda-feira, 11 de junho de 2012

Examinemos nossas orações de petições:

(...)Examinemos nossas orações de petições:

 Prescindamos, para tanto, das intenções subjetivas, examinando-as no que elas dizem em e por si mesmas. Partamos de um exemplo entre os milhões que se ouvem em qualquer domingo em nossas igrejas:

- Para que as crianças da África não morram de fome, roguemos ao Senhor.

- Senhor, escuta e tem piedade.

O que estamos implicando objetivamente aí e, portanto, gravando em nosso inconsciente individual e propagando no imaginário coletivo?

Procedendo com objetividade e falando cruamente (sempre com a ressalva de que não nos referimos às intenções subjetivas e conscientes), não há porque negar implicações gravíssimas. De um lado, o teor dessas petições implica: 1) que nós percebemos a necessidade e tomamos a iniciativa: somos bons e procuramos convencer a Deus para que também ele o seja; 2) que em troca, Deus se mantém passivo, ou pelo menos não suficientemente ativo e generoso até que nós o convençamos, se formos capazes. Por outro lado, e isto é muito mais grave: 3) que se no domingo que seguinte as crianças africanas continuam a morrer de fome, a lógica mais elementar impõe a consequência: Deus “não ouviu nem teve piedade”. Finalmente, e muitíssimo mais grave ainda: 4) que Deus poderia, se quisesse, solucionar o problema da fome e por conseguinte, também o das enfermidades e o dos acidentes, e o dos assassinatos e o das guerras...; porém, ao que parece, não quer fazê-lo.

Tomamos consciência do que significa tudo isso? Sem pretendê-lo em nossa intenção consciente, certamente porém implicando-o de modo necessário na objetividade do que decidimos, estamos projetando uma imagem monstruosa de Deus. Não apenas ferimos a ternura infinita de um amor que não pensa mais do que em ajudar e salvar, mas acabamos por dizer implicitamente algo que não nos atreveríamos a dizer nem do mais infame dos humanos. Porque quem, se estivesse a seu alcance, duvidaria em eliminar do mundo tanto mal e tanto mal e tanto horror? Será Deus o único capaz de tão inconcebível monstruosidade?...

Um texto de Andrés Torres Queiruga - teólogo e escritor galego. Realizou estudos no seminário de Santiago de Compostela e na Universidade de Comillas, passou dois anos em Roma realizando a sua tese. Foi professor de Teologia no Instituto Teolóxico compostelá e de Filosofia da Religião na Universidade de Santiago de Compostela. É membro da Real Academia Galega e do Consello da Cultura Galega; foi um dos fundadores e diretor da revista Encrucillada - PELO DEUS DO MUNDO NO MUNDO DE DEUS. Edições Loyola -

Continua...
Vassum Crisso











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