terça-feira, 29 de maio de 2012

Sens-ação in-evitável - texto do Livro DI-VERSOS


Sens-ação in-evitável - 
Texto do Livro DI-VERSOS
 Miguel Garcia

Ai mãe, cadê teu rosto sereno, sombra de nuvens em teus olhos cinzentos como o mar?
Cadê tuas idéias singulares?
Por que fugistes de mim por alameda de eventos tão súbitos e dolorosos?

Fitei a vida inteira nos pontos do existir que abrigam memórias tuas. Cadê o conforto que nutria minha alma - santa delícia de tua presença benfazeja e revigorante?

Serei capaz de alijar em palavras isso que sufoca, tal consolo me alcançaria?
Ai mãe... Tenho considerado a vida totalmente inútil e sem sentido. Que solidão torturante!

Cadê a mulher que compartilhava meus segredos – sonhos, desejos, que me alojava em si?

Tédio doloroso - vazio interior é tua ausência aqui - tudo vira um deserto, um deserto horrendo, assolado por tempestades de melancolia e tristeza a-brasa-doras.

A vida parece girar tão rápido agora que você partiu... Chego ao ponto de nada mais desejar, a não ser, precipitar-me direta-mente no insondável, pois, quem se abandona não se prende à vida.

Ondas de um mar invisível rasgando o tempo... Oh! Lembranças entaladas na garganta: agarro-me a vós como alguém que sente o abismo sob os pés: cadê a mulher que me amava – minha Deusa - heroína, minha fonte, eu mesmo?

Que horror ser lançado ao caos como que por um alçapão aberto no caminho plano da existência, que horror! O coração bate em falso, o real despenca como pedra que cai do peitoril: cadê aquele olhar maternal, a claridade daquelas emoções? Cadê meu mar calmo, brilhando magnífico e azul, as paisagens delir-antes, as mil flores, o brilho de emoção que emudecia meu olhar?

Sei que toda dor é covarde. O sangue congelou em minhas veias, não nego. Sinto-me exaurido, esmagado, chicoteado por ironias – árvore atingida por um raio, desmaiado, sem alento, morto: será que um dia emergiremos juntos desse túmulo mortal? Ai mãe, cadê minha esperança?

Vassum Crisso

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