Sens-ação in-evitável -
Miguel Garcia
Ai
mãe, cadê teu rosto sereno, sombra de nuvens em teus olhos cinzentos como o
mar?
Cadê
tuas idéias singulares?
Por
que fugistes de mim por alameda de eventos tão súbitos e dolorosos?
Fitei
a vida inteira nos pontos do existir que abrigam memórias tuas. Cadê o conforto
que nutria minha alma - santa delícia de tua presença benfazeja e revigorante?
Serei
capaz de alijar em palavras isso que sufoca, tal consolo me alcançaria?
Ai
mãe... Tenho considerado a vida totalmente inútil e sem sentido. Que solidão
torturante!
Cadê
a mulher que compartilhava meus segredos – sonhos, desejos, que me alojava em
si?
Tédio
doloroso - vazio interior é tua ausência aqui - tudo vira um deserto, um
deserto horrendo, assolado por tempestades de melancolia e tristeza a-brasa-doras.
A
vida parece girar tão rápido agora que você partiu... Chego ao ponto de nada
mais desejar, a não ser, precipitar-me direta-mente no insondável, pois, quem
se abandona não se prende à vida.
Ondas
de um mar invisível rasgando o tempo... Oh! Lembranças entaladas na garganta:
agarro-me a vós como alguém que sente o abismo sob os pés: cadê a mulher que me
amava – minha Deusa - heroína, minha fonte, eu mesmo?
Que
horror ser lançado ao caos como que por um alçapão aberto no caminho plano da
existência, que horror! O coração bate em falso, o real despenca como pedra que
cai do peitoril: cadê aquele olhar maternal, a claridade daquelas emoções? Cadê
meu mar calmo, brilhando magnífico e azul, as paisagens delir-antes, as mil
flores, o brilho de emoção que emudecia meu olhar?
Sei
que toda dor é covarde. O sangue congelou em minhas veias, não nego. Sinto-me
exaurido, esmagado, chicoteado por ironias – árvore atingida por um raio,
desmaiado, sem alento, morto: será que um dia emergiremos juntos desse túmulo
mortal? Ai mãe, cadê minha esperança?
Vassum Crisso
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