segunda-feira, 28 de junho de 2010

Ai de nós art-is-tas!

Ai de nós art-is-tas!
Miguel Garcia

E agora:
como seremos transportados às largas planuras sob a imensa cúpula do céu aberto,
ou à espessa floresta ví-vida,
sob o pálio das árvores?
Como ouviremos as vozes divinas falarem através do vento e do trovão?
Como saberemos se o espírito de Deus flutuava em todo riacho da montanha,
e se toda a terra florescia como um lugar sagrado?
Agora que limpamos o planeta de todo mistério,
faxinando crenças,
qual será o alimento de nossa imagin-ação?
Ai de nós art-is-tas!

Saga

Saga
Miguel Garcia



In-tu-indo... É o que faço. Con-fio no ser sem afronta à razão, sem bater em retirada. Eis minha jornada pela super-ação das paixões tenebrosas, pelo controle do selvagem irracional – enfebrecimento carnal, lúbrico, endêmico à natureza humana. Não se trata de um ato de coragem, e sim de uma vida vivida em termos de autodescoberta – encontrar dentro de mim as reservas de caráter necessárias para enfrentar meu “destino”.

Não espero en-grande-cimento ao fim da jor-“nada”. Não se trata de identificar-me com qualquer das figuras ou poderes experimentados, como quem lutando por se libertar e identificando-se com a Luz, jamais retornasse, isso não. Ninguém que abraça o propósito de servir aos outros se permitiria tal evasão.

O objetivo último de minha busca não será nem evasão nem êxtase, para mim mesmo, mas a conquista da sabedoria e do poder para servir outros. Já descobri que uma das distinções entre a celebridade e o herói é que um vive apenas para si mesmo, enquanto o outro age para redimir a sociedade. Melhor é dar a vida por algo maior que si mesmo. Vida... deliciosa aventura const-ante: é certo que meu retorno trará ao menos uma mensagem...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Sentido dá vida!

O Sentido dá vida
Miguel Garcia

Não sei sobre o sentido da vida. Não me ocupo disso. Ando a procura da experiência de estar vivo, de modo que aquilo que ocorre no plano puramente físico, tenha ressonância no interior de minha realidade mais íntima e do ser, de modo que eu realmente sinta o enlevo de estar vivo.
Estou exatamente aqui. É isso. O sentido é que estou aqui. Rejeito a proposta de viver empenhado em realizar determinados feitos (culto ao heroísmo próprio e de outrem), com o propósito de atingir objetivos de outro valor, ao ponto de esquecer-me de que o valor genuíno de estar vivo é o que conta de fato. Sou quem sou e amo, amo muito, não quero cessar nunca; canto, seduzo notas, in-Vento palavras, vou roçando as cordas da guitarra até que o clímax de um prazer musical a-con-teça, re-velo, poetizo, profetizo, alquimizo - tempero o existir, enfeito o prato, a mesa, a rotina, derramo sentimentos e afetos vários, preciso en-gra-vidar o mundo, colher a flor, comer o fruto, aspirar o aroma de tudo – o perfume de todos, de Cristo, hoje, aqui, agora mesmo, estou exatamente aqui. É isso. O sentido é que estou aqui.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Quem dera a im-perfeição virasse moda na igreja!

Quem dera a im-perfeição virasse moda na igreja!
Miguel Garcia


Minhas melhores canções são as mais dissonantes. Meus melhores poemas, os que confundem cabeças. Músicos e escritores devem ser verdadeiros para com a Verdade. A única maneira de descrever o humano verdadeiramente é através de suas imperfeições.

Aprendi isso na vida e com Joseph Campbell; que o ser "humano perfeito" é desinteressante – 'um Buda que abandona o mundo'. Rememorei peregrinando por leituras, que são apreciáveis as imperfeições da vida. Sei que palavras como essas podem ser recebidas como se fossem dardos mortais - setas inimigas de pressupostos arraigados e até sacralizados - algo que fere, no entanto, devo afirmar que se mato algumas crenças no caminho de minhas reflexões, o faço com amor, por amor abato com sentenças “cruéis” e analíticas.

Perfeição é algo tedioso – desumano. Cito como exemplo, a estrutura das canções religiosas industriais (melodia, harmonia, ritmo e poesia), enfadonhas em sua pretensão de expressar um ideal perfeito, sendo que adorável é o umbilical, a human-idade – aquilo que se faz gente e não sobrenatural e imortal.
Campbell sugere ainda que a razão de muitas pessoas terem dificuldade de amar a Deus é por não haver nele imperfeição alguma. Você pode sentir reverência, alerta Campbell, mas isso não é amor. É o Cristo crucificado que desperta nosso amor, afirma categoricamente. “Sofrimento. Sofrimento é imperfeição, não é?”, e com isso, arre-mata-a-pau.

A história do sofrimento humano, a luta diária e frenética, a vida criatural, tudo o que a condição limitada traz à tona como possibilidade, isso sim é bacana, é tudo de bom – transparente de eternidade aqui, do Belo, humanal, encarnado - crístico.

Quem dera a ver-dadeira Arte recebesse um convite para ingressar no período de louvor... Quem dera a im-perfeição virasse moda na igreja!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

فاطمة

فاطمة
Miguel Garcia

Diante desses fatos, rendo-me à pulsão Ágape, pois não se pode reduzir ou con-ter um mistério divino – uma pessoa crística – uma Mulher adorável. Miguel Garcia

Você não nasceu,
Luziu, alvoreceu,
Clar-eou, Es-Clar-ceu,
Brilhou, fez-se dia,
Amanheceu, resplendeu,
Chamejou, cintilou,
Centelhou, faiscou,
Refletiu, reverberou,
Rebateu, resplan-deceu,
Deu-se de si luz, alumiou,
In-sol-ou, deslumbrou,
Aureolou, aclareou,
Rutilou, coruscou,
Tomou o sol – repontou da manhã...

Tão lúcida, dilúcida,
Luzida, brilhante,
Luz-ente, esplendida,
Lustrosa, cintil-ante,
Deslumbr-ante, gloriosa,
Aureolada, luminosa,
Es-Clar-ecida, à luz de Deus,
Aos raios Seus, sem nuvens – trevas,
Rútila, iluminada,
Fosforesc-ente, luc-ida,
Esplendida, donzela:
Fāţimah, Clara,
do Jorro de luz, e do Garcia?

Feliz Aniversário!

sábado, 19 de junho de 2010

O PAÍS DA COPA TEM 'CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO' PARA OS EXCLUÍDOS

VÍDEO EXCLUSIVO MOSTRA QUE O PAÍS DA COPA TEM 'CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO' PARA OS EXCLUÍDOS (por ESPN.com.br)

Em virtude da Copa do Mundo, a Cidade do Cabo implantou uma política de 'limpeza social' para deixar pessoas 'indesejadas' – como moradores de rua, pobres e aidéticos – longe dos olhos dos turistas.

Blikkiesdorp, ou cidade de lata, tem moradias de caráter provisório para onde essas pessoas foram levadas, até que fossem construídas casas de verdade. Anos depois, porém, elas permanecem cercadas e esquecidas.

Assista o vídeo:

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A-Deus Sara-mago! Morre um grande mestre da suspeita.

A-Deus Sara-mago! Morre um grande mestre da suspeita.
Miguel Garcia

O que é "dado" primeir-a-mente é a consciência falsa, o preconceito, a ilusão, a pretensão ao conhecimento de si e de outros (não cesso de ter con-tato com esse tipo de ocorrência). Miguel Garcia


Acredito pi-a-mente que escritores como José Saramago sejam funda-mentais ao cristianismo, ajudando-o a permanecer consciente de abundantes anomalias, como as que Nietzsche, Marx, Feuerbach, Freud e tantos outros trouxeram à tona: as máscaras tão amadas pela coisa religiosa, explorações secretas que o soci-ALL e a igreja vivem ocultando, as projeções de nós mesmos em Deus e aquilo que considero mais freqüente e palpável, os mecanismos e pulsões inconscientes por trás do que a maioria dos que se consideram cristãos escondem desesperadamente ou procuram disfarçar.

Faço questão de aplaudir o gênio de Sara-mago, apesar dele não ter sido capaz de dar ampla expressão ao lado místico, ao menos não do modo convencional, eu diria. De certo maneira lamento que sua recusa de "abandonar o projeto causa sui" o tenha privado de uma visão menos ácida do significado real e mais profundo da religião. Mas sei que uma visão assim é o campo de cultura da fé diretamente como uma realidade experencial e não uma ilusão, conforme o autor imaginava. O Mago não abandonou seu daimon, a totalidade de sua única paixão como gênio, a própria dádiva que ele forjou para a humanidade, de qualquer modo, louvado seja!

Deixo aqui as merecidas reverências ao talento e valor desse autor e junto a elas o meu a-Deus, a-Deus Sara-mago-das-idéias-novas-e-brilhantes-percepções-do-real, regresse ao princípio e ao fim de tudo: a-Deus!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A força motriz do mundo

A força motriz do mundo
Miguel Garcia

Observei tudo e compreendi que o que move o mundo, tanto no social como no pensamento, é a inveja – admiração infeliz, como bem disse o gênio de Kierkegaard.

Por mais que eu tente, queira e até necessite, não cesso de ouvir as vozes, o ronco que dá movimento, que impulsiona tudo e todos, em toda parte, o Sistema que transforma em energia outras formas de energia.

Por mais que eu faça força para esquecer, negar, transcender, a carga induz e instiga constantemente, essa força motriz impele o mundo, espreita, seduz, devora, esse desgosto pelo bem alheio - palpável ou não, esse apetite voraz, esse ódio velado pelo possuidor de qualquer coisa concreta ou imaterial.

Recentemente ouvi o relato de uma dona de casa, casada, mãe de três crianças pequenas, natural do sul de Minas, Nepomuceno. Ela contou que num dado momento de sua vida, sentindo-se carente do Maravilhoso, do Amor Supremo, de render-se ao Ágape pulsante, procurou uma comunidade evangélica próxima de sua residência e, sem demora, converteu-se - entregou-se a Jesus Cristo e logo após foi seguida na decisão pelo marido e os filhos.

Não demorou muito e já estavam sendo submetidos a um minucioso processo de "des-mundificação" que exigiu uma investigação detalhada do estilo de vida que levavam e hábitos que por ventura contrariassem o estatuto e a ordem de coisas da comunidade.

A senhora contou-me também que na época, seu marido era bem empregado, que eles possuíam casa própria e gozavam de certa tranqüilidade econômica.

Logo vieram as cobranças de dízimos e ofertas especiais dirigidas especificamente a ela e seu marido, junto com ameaças indiretas de castigo e maldição, caso não suprissem as necessidades da "casa do Senhor".

Vencido o estágio de adaptação, ou melhor, sobrevivido à prova de fogo do “discipulado” a que foram submetidos, foram convencidos a tornarem-se meio para o expansionismo e conquistas da comunidade. Foram enviados a um campo missionário, num lugar distante.

Para que tal processo transcorresse a contento dos ideais da instituição o anjo da igreja (pastor) os induziu  a abrir mão de todo o pouco que conseguiram ajuntar à duras penas, ao longo de muitos anos de trabalho. Por fim, obedeceram  ao 'chamado divino': o marido largou o emprego estável, venderam a casa às pressas e por qualquer tostão, confiantes na promessa do pastor de que seriam respaldados com recursos especialmente reservados para esse fim, ou seja, missões. Resultado; foram mais que abandonados e deixados à mercê do próprio azar. Faliram radicalmente e tiveram que voltar para terra natal com recursos próprios e como se não bastasse, acusados de serem incompetentes e pecadores (perdedores), para que o Deus não os tivesse salvo da situação calamitosa em que se encontravam. Lembro-me dessa senhora voltando um olhar desencantado para mim, suspirando e enternando o seguinte desabafo em palavras:

.. "sabe irmão, continuo apaixonada por Jesus, Dele não abro mão jamais (quem sou eu), mas quero distância daquele povo. Foi inveja, irmão, foi tudo inveja daquela gente mesquinha. Eles nem queriam as coisas da gente (queriam melhores), só não suportavam ver que a gente tinha alguma coisa, foi tudo inveja deles".

Esse tipo de história emudece e faz concluir que tudo é inveja de invejosos, que a inveja é o motor dessa estufa de angustias - o mundo dos homens.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O que é pior: religião ou psicologia, guru "evangélico" ou psico"lógico"? 2

O que é pior: religião ou psicologia, guru "evangélico" ou psico"lógico"  2? (Resposta in-útil)

Por incrível que pareça o sujeito que compartilha esse texto e parece hostilizar a religião e a psicanálise é mais que apaixonado por Jesus, não perde um só culto de domingo, participa de louvorzão de olhos fechados e marejando ao sabor de cadências previsíveis. 'Pregador' desde garoto, inquieto, vocacionado ao "pastorado" – ao serviço a outrem, caiu de cabeça e coração nas Ruben Alvices, Queiruguices, Delubaquices, Moltmannices, Sobrinices, Adornices, Kierkegardices, Otto Ranckices, Tillichices e afins. ora com desenvoltura de um pentéca, com contudo, vaga abso-luta-mente acordado, aberto - atento aos novos significados, leituras e re-leituras do "real", pulsa na delicadeza e poesia – transparência de Eternidade em tudo, todos. Um sujeito que vive gritando: "abaixo a mental-idade canina", eu no caso, mais que extasiado por 'psicologia'. Acredito no potencial de 'cura com palavras'. No texto em questão fui um tanto radical, “exagerado".. eu sou mesmo exagerado”...

Esse assunto dá pano pra manga, como diria a dona Edite (minha re-finada mãe). A última coisa que desejo é ser hostil com religião e psicanálise, por mais incrível e paradoxal que isso possa parecer. Acredito mesmo que a hostilidade à Psicanálise (com maiúscula) no passado, hoje e no futuro, será sempre uma hostilidade contra a necessidade de admitir que o homem vive mentindo para si mesmo sobre si mesmo e seu mundo, e que o caráter é uma mentira 'vital'.

Minhas questões vão por aí..., na pulsão de gritar sobre o excesso de fetichização em torno de gurus psicológicos e pressupostos daninhos arraigados – fundamentalismo “científico”, se é que posso chamar assim, sendo que nem todas as escolas encaixam-se no que poderíamos chamar de confiáveis ou perto disso.
Pois bem, as pessoas buscam encontrar a imortalidade de uma maneira nova e garantida. Querem a apoteose heroica como o quiseram todas as gentes da história passada – mas agora não existe ninguém para dar-lhes isso, exceto seu guru psicológico. As pessoas vão criando assim um impasse que torna os psicoterapeutas, o produto do neurótico devido a sua doença. Pelo que andei pesquisando, posto que também sou vidrado em psico..., a coisa funciona mais ou menos assim:

O homem moderno necessita de um tu para quem se voltar em busca de dependência espiritual e moral, e como Deus se acha em eclipse, o terapeuta O 'tem substituído' – tal como o ente amado e os pais o fizeram. Se isso for verdade, o tu do terapeuta é o novo Deus que tem de substituir as velhas ideologias de redenção. Como o indivíduo (terapeuta) não pode servir como Deus, ele tem de dar origem a um problema verdadeiramente “diabólico” (transferências e afins).

Daí o homem moderno estaria condenado a buscar o sentido de sua vida na introspecção psicológica e, por isso, seu novo confessor tem de ser a autoridade suprema em introspecção - o psicanalista. Sem falar que o além do paciente fica limitado ao divã analítico e à visão de mundo ali revelada. A psicologia representaria a decomposição, a dissipação analítica do eu, e em geral limitando o mundo à ideologia cientifica do terapeuta.

Minhas idéias e críticas (no sentido de uma busca por um aumento da percepção do real) caminham no sentido de apontar um tipo de empobrecimento emocional da psicanálise e divinização da atividade terapêutica – religiosização da atividade, etc...

Descobri que, o triunfo da psicologia científica teve mais efeitos equívocos do que apenas deixar intacta a alma que se propusera abolir. Quando se restringe a alma ao eu e o eu ao condicionamento inicial da criança, o que sobra? Tem-se o homem individual e fica-se atrapalhado com ele.

Ao que me consta, a promessa da Psicologia, como de toda a ciência moderna, era que inauguraria uma era de felicidade para o homem, mostrando-lhe como tudo funcionava, como uma coisa provocava outra. Aí, quando o homem conhecesse as causas de tudo, só lhe restaria apossar-se do domínio da natureza, inclusive da sua própria, e sua felicidade estaria assim assegurada (sobre esse tipo de “presunção”, ou sei lá o que, é bacana ler A ABOLIÇÃO DO HOMEM – C.S.Lewis).

Quanto à promessa de redenção científica do homem psicológico, encontrei questionamentos importantes em Otto Ranck, Norman Brown etc. Pois bem, sem negar aqui que a terapia pode representar uma grande libertação do que os especialistas chamam de falsa maldade – conflitos artificialmente provocados pelo ambiente primitivo da pessoa e pelos acidentes de nascimento e local, quis por em foco o quanto, ao meu modo de ver, a Psicologia restringe a causa da infelicidade pessoal à própria pessoa, quando muitos estudiosos dessa disciplina acreditam que a causa universal e geral para a maldade, culpa e inferioridade pessoal é o mundo natural e o relacionamento da pessoa com ele como um animal simbólico, que precisa encontrar nele um lugar seguro.

Toda a análise do mundo não permite à pessoa descobrir quem ela é e porque está na terra, porque tem de morrer e como pode fazer de sua vida um triunfo. É quando a psicologia simula fazer isso, quando ela se oferece como uma explicação total da infelicidade humana, que ela se torna uma fraude e faz da situação do homem moderno um impasse do qual ele não pode escapar.
Resumindo pra terminar:

A psicologia restringiu sua compreensão da infelicidade humana à história de vida pessoal do individuo e não entendeu quanto a infelicidade individual é, por si mesma, um problema histórico na acepção mais lata, um problema de eclipse das ideologias comunitárias seguras de redenção.

Estaríamos falando de uma nova forma de religião (a psicanálise) em que o psicólogo ocuparia o lugar de Guru cienti-ficado?

terça-feira, 15 de junho de 2010

Friedenreich (E ainda tem gente que não acredita no “diabo”..)

Friedenreich
(E ainda tem gente que não acredita no “diabo”..)

Em 1919, o Brasil venceu o Uruguai por 1 a 0 e se sagrou campeão sul-americano. O povo se lançou às ruas do Rio de Janeiro. Presidia os festejos, levantada como um estandarte, uma barrenta chuteira, com um cartazinho que proclamava: O glorioso pé de Friedenreich. No dia seguinte, aquela chuteira que tinha feito o gol da vitória foi parar na vitrina de uma joalheria, no centro da cidade.
Artur Friedenreich, filho de um alemão e de uma lavadeira negra, jogou na primeira divisão durante vinte e seis anos, e nunca recebeu um centavo. Ninguém fez mais gols que ele na história do futebol. Fez mais gols que o outro grande artilheiro, Pelé, também brasileiro, que foi o maior goleador do futebol profissional. Friedenreich somou 1.329 gols. Pelé, 1.279.
Este mulato de olhos verdes fundou o modo brasileiro de jogar. Rompeu com os manuais ingleses: ele, ou o diabo que se metia pela planta de seu pé. Friedenreich levou ao solene estádio dos brancos a irreverência dos rapazes cor de café que se divertiam disputando uma bola de trapos nos subúrbios. Assim nasceu seu estilo, aberto à fantasia, que prefere o prazer ao resultado. De Friedenreich em diante, o futebol brasileiro que é brasileiro de verdade não tem ângulos retos, do mesmo jeito que as montanhas do Rio de Janeiro e seus edifícios de Oscar Niemeyer. (Eduardo Galeano)

Os Negros (uma breve história de Copas)

Os Negros



Em 1916, no primeiro campeonato sul-americano, o Uruguai goleou o Chile por 4 a 0. No dia seguinte, a delegação chilena exigiu a anulação da partida, “porque o Uruguai escalou dois africanos”. Eram os jogadores Isabelino Gradín e Juan Delgado. Gradín havia feito dois dos quatro gols.
Bisneto de escravos, Gradín tinha nascido em Montevidéu. As pessoas se levantavam quando ele se lançava numa velocidade espantosa, dominando a pelota como quem caminha, e sem se deter evitava os adversários e arrematava na corrida. Tinha cara de santo e quando fazia cara de mau, ninguém acreditava.
Juan Delgado, também bisneto de escravos, havia nascido em Florida, no interior do Uruguai. Delgado brilhava dançando nos carnavais e fazendo a bola dançar nos gramados. Enquanto jogava, conversava, e gozava os adversários.
- Larga esse cacho – dizia, levantando a bola. E lançando-a dizia:
- Sai fora, que lá vai areia.
O Uruguai era, naquela época, o único país do mundo que tinha jogadores negros na seleção nacional. (Eduardo Galeano)

sábado, 12 de junho de 2010

O que é pior: religião ou psicologia, guru "evangélico" ou psico"lógico"?

O que é pior: religião ou psicologia, guru "evangélico" ou psico"lógico"?
Miguel Garcia


Simulando substituir a religião, a psicologia foi e continua sendo péssima. Seus gurus são tão alienados e ridículos quanto aqueles que se ufanam e bravateiam em nome do deus, no picadeiro de mega catedrais ou em esdrúxulos programas de rádio e tele”visão”.

Já a religião, tendo chegado às causas reais da culpa universal, conseguiu ser um tanto "melhor" que a psicologia, digo, um tanto melhor, pois geralmente a religião reforça as autoridades pátrias e sociais e torna ainda mais forte e inibi-dor o peso da culpa circunstancial, além de ser verdadeiramente causadora da maioria dos males apontados pelos grandes mestres da suspeita ao longo dos séculos. Você decide! O que é pior: religião (no sentido maquinal e deteriorado da palavra) ou psicologia (no sentido romântico e alienado), guru "evangélico" ou psico"lógico"? 

quinta-feira, 3 de junho de 2010

In-substanci-ALL

In-substanci-ALL
Miguel Garcia


Não se pode viver com a verdade. É por isso que as ilusões da arte, religião, filosofia, ciência e amor são tão bem-vindas.
A auto-tapeação de dentro (intrapsíquica) condiciona a de fora e faz brilhar um firme sentimento de poder ativo no cerne da pessoa. É quando a intuição apoia-se na "potência" alheia.
Não há saída: a vida só é possível com ilusões. Não há cinismo ao fazer tais afirmações.
Nossos projetos são carentes de uma grande dose de auto-engano e embromação. Eis a matéria prima de um sonho "imprescindível", do que muitos de nós chamam de um mundo “novo” - “realidade nova” – estilo de vida, do drama do existir, eis a nutrição de tudo (auto-tapeação nossa de cada dia).
O incrível é que aquilo que ilude é ao mesmo tempo algum tipo de representação criativa no mais auto nível –  algum tipo de ideologia indispensável de auto-justificativa – dimensão heroica do animal desprogramado e simbólico: nisso que deu a "evolução".
A ilusão respira/oxigena, salva da ameaça de sermos reduzidos ao puramente bestial (sem querer ofender nossos irmão da floresta), eis o que nos "redime" da mera luta frenética e fornicação crônica/"maquinal".
Há uma voz gritando que a vida só se torna viável em algum tipo continuo de estupor alcoólico, artístico, religioso, filosófico, científico, "amoroso" e outros tantos e infindáveis...
Não se pode viver com a verdade. Eis a essência in-substanci-all!