quarta-feira, 16 de junho de 2010

O que é pior: religião ou psicologia, guru "evangélico" ou psico"lógico"? 2

O que é pior: religião ou psicologia, guru "evangélico" ou psico"lógico"  2? (Resposta in-útil)

Por incrível que pareça o sujeito que compartilha esse texto e parece hostilizar a religião e a psicanálise é mais que apaixonado por Jesus, não perde um só culto de domingo, participa de louvorzão de olhos fechados e marejando ao sabor de cadências previsíveis. 'Pregador' desde garoto, inquieto, vocacionado ao "pastorado" – ao serviço a outrem, caiu de cabeça e coração nas Ruben Alvices, Queiruguices, Delubaquices, Moltmannices, Sobrinices, Adornices, Kierkegardices, Otto Ranckices, Tillichices e afins. ora com desenvoltura de um pentéca, com contudo, vaga abso-luta-mente acordado, aberto - atento aos novos significados, leituras e re-leituras do "real", pulsa na delicadeza e poesia – transparência de Eternidade em tudo, todos. Um sujeito que vive gritando: "abaixo a mental-idade canina", eu no caso, mais que extasiado por 'psicologia'. Acredito no potencial de 'cura com palavras'. No texto em questão fui um tanto radical, “exagerado".. eu sou mesmo exagerado”...

Esse assunto dá pano pra manga, como diria a dona Edite (minha re-finada mãe). A última coisa que desejo é ser hostil com religião e psicanálise, por mais incrível e paradoxal que isso possa parecer. Acredito mesmo que a hostilidade à Psicanálise (com maiúscula) no passado, hoje e no futuro, será sempre uma hostilidade contra a necessidade de admitir que o homem vive mentindo para si mesmo sobre si mesmo e seu mundo, e que o caráter é uma mentira 'vital'.

Minhas questões vão por aí..., na pulsão de gritar sobre o excesso de fetichização em torno de gurus psicológicos e pressupostos daninhos arraigados – fundamentalismo “científico”, se é que posso chamar assim, sendo que nem todas as escolas encaixam-se no que poderíamos chamar de confiáveis ou perto disso.
Pois bem, as pessoas buscam encontrar a imortalidade de uma maneira nova e garantida. Querem a apoteose heroica como o quiseram todas as gentes da história passada – mas agora não existe ninguém para dar-lhes isso, exceto seu guru psicológico. As pessoas vão criando assim um impasse que torna os psicoterapeutas, o produto do neurótico devido a sua doença. Pelo que andei pesquisando, posto que também sou vidrado em psico..., a coisa funciona mais ou menos assim:

O homem moderno necessita de um tu para quem se voltar em busca de dependência espiritual e moral, e como Deus se acha em eclipse, o terapeuta O 'tem substituído' – tal como o ente amado e os pais o fizeram. Se isso for verdade, o tu do terapeuta é o novo Deus que tem de substituir as velhas ideologias de redenção. Como o indivíduo (terapeuta) não pode servir como Deus, ele tem de dar origem a um problema verdadeiramente “diabólico” (transferências e afins).

Daí o homem moderno estaria condenado a buscar o sentido de sua vida na introspecção psicológica e, por isso, seu novo confessor tem de ser a autoridade suprema em introspecção - o psicanalista. Sem falar que o além do paciente fica limitado ao divã analítico e à visão de mundo ali revelada. A psicologia representaria a decomposição, a dissipação analítica do eu, e em geral limitando o mundo à ideologia cientifica do terapeuta.

Minhas idéias e críticas (no sentido de uma busca por um aumento da percepção do real) caminham no sentido de apontar um tipo de empobrecimento emocional da psicanálise e divinização da atividade terapêutica – religiosização da atividade, etc...

Descobri que, o triunfo da psicologia científica teve mais efeitos equívocos do que apenas deixar intacta a alma que se propusera abolir. Quando se restringe a alma ao eu e o eu ao condicionamento inicial da criança, o que sobra? Tem-se o homem individual e fica-se atrapalhado com ele.

Ao que me consta, a promessa da Psicologia, como de toda a ciência moderna, era que inauguraria uma era de felicidade para o homem, mostrando-lhe como tudo funcionava, como uma coisa provocava outra. Aí, quando o homem conhecesse as causas de tudo, só lhe restaria apossar-se do domínio da natureza, inclusive da sua própria, e sua felicidade estaria assim assegurada (sobre esse tipo de “presunção”, ou sei lá o que, é bacana ler A ABOLIÇÃO DO HOMEM – C.S.Lewis).

Quanto à promessa de redenção científica do homem psicológico, encontrei questionamentos importantes em Otto Ranck, Norman Brown etc. Pois bem, sem negar aqui que a terapia pode representar uma grande libertação do que os especialistas chamam de falsa maldade – conflitos artificialmente provocados pelo ambiente primitivo da pessoa e pelos acidentes de nascimento e local, quis por em foco o quanto, ao meu modo de ver, a Psicologia restringe a causa da infelicidade pessoal à própria pessoa, quando muitos estudiosos dessa disciplina acreditam que a causa universal e geral para a maldade, culpa e inferioridade pessoal é o mundo natural e o relacionamento da pessoa com ele como um animal simbólico, que precisa encontrar nele um lugar seguro.

Toda a análise do mundo não permite à pessoa descobrir quem ela é e porque está na terra, porque tem de morrer e como pode fazer de sua vida um triunfo. É quando a psicologia simula fazer isso, quando ela se oferece como uma explicação total da infelicidade humana, que ela se torna uma fraude e faz da situação do homem moderno um impasse do qual ele não pode escapar.
Resumindo pra terminar:

A psicologia restringiu sua compreensão da infelicidade humana à história de vida pessoal do individuo e não entendeu quanto a infelicidade individual é, por si mesma, um problema histórico na acepção mais lata, um problema de eclipse das ideologias comunitárias seguras de redenção.

Estaríamos falando de uma nova forma de religião (a psicanálise) em que o psicólogo ocuparia o lugar de Guru cienti-ficado?

Nenhum comentário: