quinta-feira, 3 de junho de 2010

In-substanci-ALL

In-substanci-ALL
Miguel Garcia


Não se pode viver com a verdade. É por isso que as ilusões da arte, religião, filosofia, ciência e amor são tão bem-vindas.
A auto-tapeação de dentro (intrapsíquica) condiciona a de fora e faz brilhar um firme sentimento de poder ativo no cerne da pessoa. É quando a intuição apoia-se na "potência" alheia.
Não há saída: a vida só é possível com ilusões. Não há cinismo ao fazer tais afirmações.
Nossos projetos são carentes de uma grande dose de auto-engano e embromação. Eis a matéria prima de um sonho "imprescindível", do que muitos de nós chamam de um mundo “novo” - “realidade nova” – estilo de vida, do drama do existir, eis a nutrição de tudo (auto-tapeação nossa de cada dia).
O incrível é que aquilo que ilude é ao mesmo tempo algum tipo de representação criativa no mais auto nível –  algum tipo de ideologia indispensável de auto-justificativa – dimensão heroica do animal desprogramado e simbólico: nisso que deu a "evolução".
A ilusão respira/oxigena, salva da ameaça de sermos reduzidos ao puramente bestial (sem querer ofender nossos irmão da floresta), eis o que nos "redime" da mera luta frenética e fornicação crônica/"maquinal".
Há uma voz gritando que a vida só se torna viável em algum tipo continuo de estupor alcoólico, artístico, religioso, filosófico, científico, "amoroso" e outros tantos e infindáveis...
Não se pode viver com a verdade. Eis a essência in-substanci-all!

2 comentários:

Paulo Cruz (PC) disse...

Amigo, esquece-se você que é um artista (e dos bons)?!
Acha que pode enganar alguém com esse discurso tão marcada-mente prosaico?

Você é pura arte, meu irmão! E talvez essa seja sua maior verdade! Portanto, dizer que a arte existe porque não conseguimos viver com a verdade é uma contradição.

Foi Platão quem, mesmo utilizando-se incansavel-mente de seus recursos, disse que a arte era tapeação.
Recorro a essa lembrança porque ela é o mais antigo registro de rejeição (ou questionamento) à arte.
E você é tudo, menos platônico (rsrs).

Olha, se eu não te conhecesse, compraria esse teu peixe. Mas, como te conheço, penso eu, o suficiente, comamos o peixe juntos, façamos mais poesia, cantemos mais músicas e sejamos menos engana-dores.

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"Por que a arte existe? Quem precisa dela? Na verdade, alguém precisa dela? Estas são questões colocadas não só pelo poeta, mas também por qualquer pessoa que aprecie arte - ou, naquela expressão corrente, por demais sintomática da relação entre a arte e seu público do século XX - o 'consumidor'.
Muitos fazem essa pergunta a si próprios, e qualquer pessoa ligada à arte costuma dar a sua resposta pessoal. Alexander Block disse que 'do caos, o poeta cria harmonia'... Puchkin acreditava que o poeta tem o dom da profecia... Todo artista é regido por suas próprias leis, mas estas não são, em absoluto, obrigatórias para as demais pessoas.
De qualquer modo, fica perfeitamente claro que o objetivo de toda arte - a menos, por certo, que ela seja dirigida ao 'consumidor', como se fosse uma mercadoria - é explicar ao próprio artista, e aos que o cercam, para que vive o homem, e qual é o significado da sua existência. Explicar às pessoas a que se deve sua aparição neste planeta, ou, se não for possível explicar, ao menos propor a questão.
(...)
"A arte nasce e se afirma onde quer que exista uma ânsia eterna e insaciável pelo espiritual, pelo ideal: ânsia que leva as pessoas à arte." (Andrei Tarkovski)

Miguel Garcia disse...
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