sexta-feira, 18 de junho de 2010

A-Deus Sara-mago! Morre um grande mestre da suspeita.

A-Deus Sara-mago! Morre um grande mestre da suspeita.
Miguel Garcia

O que é "dado" primeir-a-mente é a consciência falsa, o preconceito, a ilusão, a pretensão ao conhecimento de si e de outros (não cesso de ter con-tato com esse tipo de ocorrência). Miguel Garcia


Acredito pi-a-mente que escritores como José Saramago sejam funda-mentais ao cristianismo, ajudando-o a permanecer consciente de abundantes anomalias, como as que Nietzsche, Marx, Feuerbach, Freud e tantos outros trouxeram à tona: as máscaras tão amadas pela coisa religiosa, explorações secretas que o soci-ALL e a igreja vivem ocultando, as projeções de nós mesmos em Deus e aquilo que considero mais freqüente e palpável, os mecanismos e pulsões inconscientes por trás do que a maioria dos que se consideram cristãos escondem desesperadamente ou procuram disfarçar.

Faço questão de aplaudir o gênio de Sara-mago, apesar dele não ter sido capaz de dar ampla expressão ao lado místico, ao menos não do modo convencional, eu diria. De certo maneira lamento que sua recusa de "abandonar o projeto causa sui" o tenha privado de uma visão menos ácida do significado real e mais profundo da religião. Mas sei que uma visão assim é o campo de cultura da fé diretamente como uma realidade experencial e não uma ilusão, conforme o autor imaginava. O Mago não abandonou seu daimon, a totalidade de sua única paixão como gênio, a própria dádiva que ele forjou para a humanidade, de qualquer modo, louvado seja!

Deixo aqui as merecidas reverências ao talento e valor desse autor e junto a elas o meu a-Deus, a-Deus Sara-mago-das-idéias-novas-e-brilhantes-percepções-do-real, regresse ao princípio e ao fim de tudo: a-Deus!

2 comentários:

Lucilene Moura disse...

Por incrivel que pareça, essa semana eu apresentei a meus alunos à sua LITERATURA. Mostrei vídeos, imagens e falei um pouco sobre suas obras, iclusive o "Ensaio sobre a Cegueira"
Lembro-me de ter frizado que "Ele" era um dos melhores escritores de Portugues VIVO. Bom... tive o prazer de poder falar dele ainda em vida e agora falarei dele eter-na-mente.

Profª Lucilene

Paulo Cruz (PC) disse...

Ler “Ensaio Sobre a Cegueira” foi um exercício de paciência. Sem contar que parece um plágio barato do excepcional “A Peste”, de Camus.

Foi o suficiente para eu não querer ler mais nada do ilustre falecido.

E tem mais: já se tornou um enfadonho lugar-comum um cristão hodierno babar-ovo para escritor ateu. Como se isso fosse um passaporte para ser aceito no meio “in-telec-tu-all evan-gélico”. É ateu? Lindo. Se for marxista, então! Aí o povo chora!

Saramago não disse nada que nos interessasse; ao contrário de Nietzsche, por exemplo. Aliás, o que ele fez foi simplesmente tentar enxergar – como diz C. S. Lewis – através de uma coisa (no caso, o cristianismo, e não, amigo, a religião de um modo geral), e não de dentro da coisa.
Completo o pensamento citando o próprio Lewis:

“Talvez eu esteja querendo coisas impossíveis. Talvez, na natureza das coisas, o conhecimento analítico tenha sempre de ser uma medusa que mata o que vê e que só consegue ver aquilo que mata. [...]
Reduzir o Tao a um fenômeno meramente natural é um passo desse tipo. Até esse momento, o tipo de explicação que abole o objeto explicado pode até nos trazer algum resultado, ainda que a um preço demasiado alto. Mas não se pode fazer isso para sempre: cedo ou tarde chega-se a abolir a própria explicação. Não se pode ‘ver o que está por detrás’ das coisas para sempre. Todo propósito que existe em ver o que está por detrás de alguma coisa reside justamente nisso: em ver, através dessa coisa, um objeto real. É bom que a janela seja translúcida, justamente porque a rua ou o jardim além dela são opacos. E se também fosse possível tentar ver através do jardim? Não há qualquer utilidade em tentar ‘enxergar o que está por detrás’ dos primeiros princípios. Se você enxergar ‘o que está por detrás’ de todas as coisas sem exceção, então tudo se tornará transparente para você. Mas um mundo completamente transparente é um mundo invisível. ‘Ver o que está por detrás’ de todas as coisas é o mesmo que não ver nada.”
(LEWIS, C. S., A Abolição do Homem. Martins Fontes. Pg. 75-77)

Agora a piada pronta (e infame):
Saramago, ao ser recebido pelo Senhor, deve ter dito: “Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade!”

Deus te sare, Saramago;
descanse em paz.


Abraço, amigo poeta.