terça-feira, 11 de maio de 2010

Razões que difi-cult-am con-vivências

Razões que difi-cult-am con-vivências
Miguel Garcia

Sofri silen-cio-s-a-mente durante anos, por não entender bulhufas do que a-con-tecia por trás das pulsões e atitudes do ani-mal humano (de mim mesmo e dos demais). Minha angustia atual é a do bicho que ergueu demais o focinho, enxergou fora de seu quadrado e atrapalhou-se complet-a-mente.
O histórico evolutivo das criaturas não abre espaço para ilusões e fantasias. Li em algum lugar que a sociedade moderna é só um pontinho na tela da evolução do bicho homem. Centenas de milhares de anos deram aos homens e mulheres de hoje uma estrutura cerebral que é a causa de quase todos os desentendimentos e problemas relacionais. Homens se definem de acordo com seu trabalho e realizações, mulheres pela qualidade de seus relacionamentos e, para complicar ainda mais esse jogo por vezes ab-surdo, uma grande parcela das criaturas possuem um cérebro estruturado ou para um pensamento predominantemente masculino, ou para um pensamento eminentemente feminino, sendo que só uma minoria usufrui de um pensar compatível com ambos os sexos, demonstrando uma flexibilidade vantajosa para a solução de problemas. E para que o dilema não cesse por aí:

“não foram só os homens que aceitaram a versão patriarcal da realidade. As mulheres também foram ensinadas a identificar os valores masculinos em detrimento do lado feminino da vida, daí porque muitas delas passam a vida com constante sentimento de inferioridade por achar que o feminino é a segunda melhor opção. As mulheres foram educadas para considerar que apenas as atividades masculinas, raciocínio, poder e sucesso, têm valor real; e assim, a mulher ocidental acaba vendo-se no dilema psicológico do homem: desenvolve um domínio unilateral e competitivo das características masculinas, em detrimento do seu lado feminino.” R. A.Johnson

O macho da espécie humana por vezes sente-se fraco e atemorizado, aterrorizado nas expressões de Otto Ranck, mas sua estrutura geralmente o impede de demonstrar medo, ou seja, a evolução deixou marcas profundas, fez bem seu trabalho, por exemplo: os machos não se desculpam, por que para a maioria deles (homens), se desculpar seria reconhecer um erro e estar errado é fracassar, coisa que sua programação estrutural muito rar-a-mente permite. Deve-se pisar em ovos ao interagir com machos da espécie humana - zelar por falar-lhes, se for esse o caso, valendo-se de uma estrutura de linguagem adequad-a-mente masculina (a maioria pensa que "ser homem" basta), ter  o cuidado de não dar a impressão de que estão errados quanto a algum assunto ou questão, jamais, sob pena de sofrer consequencias desastrosas - falar-lhes algo estruturado em linguagem feminina fará com que ponham em ação suas defesas. Homens detestam críticas e facilmente con-fundirão diálogo (reflexão conjunta, observação cooperativa da experiência, fertilização de idéias), com discussão/debate  - em que os participantes defendem posições, argumentam, para chegarem a conclusões e acordos. Com essas feras testosteronizadas nem lida gentil garantirá bons resultados. Tendem a levar tudo para o lado pessoal e não são capazes de entender que o objetivo de uma interação verbal não é provar que alguém está errado, mas simplesmente oferecer novos pontos de vista para aumento da percepção conjunta.
Não há solução fácil. Os caras ("machões" ou mesmo "mulheres" em cargos de lid-erança) raramente dão ouvidos, raramente saem de trás do automatismo maquinal. Sentem-se mais propensos a fragmentar que integrar. Não ouvem e pronto. Quando alguém lhes fala, em vez de escutarem até o fim o que a pessoa tem a dizer, logo começam a comparar o que está sendo dito com suas idéias e referências prévias. Vivem submersos num quase total automatismo concordo-discordo – um tipo complexo de negação da morte – protegidos do real, escudados pela mentira vital: caráter, funciona assim:
Se você for inocente ou suicida demais para expressar pontos de vista (vista de um ponto) a uma dessas "divindades potentes", verá que a maioria das lideranças assume basic-a-mente duas atitudes: a) “já sei o que esse aí vai dizer e concordo; portanto, não vou perder tempo continuando a ouvi-lo”; b) “já sei o que ele vai dizer e discordo; assim não tenho porque ouvi-lo até o fim”. Em ambos os casos o resultado será o mesmo: será negada a você a capacidade o a possibilidade de dizer algo de “novo” – o que na prática pode corresponder à negação de sua própria pessoa, o que é muito complicado uma vez que, segundo Einstein, um problema não pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou. Daí para frente tudo será rodopio insano e mimetismo violento: sacrifício de vítimas inocentes para aplacar terrores inconfessos. Oxalá “minha tese” seja apenas fruto de má digestão: castigo para quem tem “olho" maior que a "barriga”!

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