quarta-feira, 26 de maio de 2010

"Não" dá pra ser feliz!

"Não": dá pra ser feliz!
Miguel Garcia

...” Um homem se humilha/Se castram seu sonho/Seu sonho é sua vida/E vida é trabalho.../E sem o seu trabalho/O homem não tem honra/E sem a sua honra/Se morre, se mata.../Não dá prá ser feliz/Não dá prá ser feliz...” Gonzaguinha

Em Becker compreendi que dom criativo é meramente a permissão social para ser obcecado. Compreendi também que o que chamamos de rotina cultural é uma licença parecida: o proletariado exige a obsessão do trabalho afim de evitar enlouquecer. É realmente admirável as pessoas serem capazes de agüentar as atividades demoníacas de trabalhar por trás de infernais fogões das cozinhas de hotéis, os frenéticos rodopios de quem tem que atender uma dúzia de mesas ao mesmo tempo em bares e restaurantes, a loucura de uma agência de viagens no auge da temporada de turismo ou a tortura de operar uma perfuratriz pneumática o dia inteiro no calor do verão. Admirável poder incluir nessa lista a agitação febril e na maioria das vezes estéril das atividades igrejeiras - escritórios catacumbicos assombrados por criaturas que se auto-tapeiam imaginando-se desprovidas de função excretora - animalidade. E concluir que a loucura dessas atividades é exatamente a da condição humana, que a loucura diária desses empregos é uma vacinação repetida contra a loucura do hospício. E pensar na alegria e expectativa ansiosa com que os trabalhadores retornam das férias para suas rotinas compulsivas, isso quando tiram férias. Considerar que os tais se atiram ao trabalho com serenidade e despreocupação porque ele (o trabalho) abafa algo mais ominoso: que os homens tenham de ser protegidos da realidade. Em Becker deparei-me com um problema gigantesco para um requintado marxismo:

“Qual é a natureza das obsessivas negações da realidade que uma sociedade utópica fornecerá para impedir que os homens enlouqueçam?”


Vassum Crisso!

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