quinta-feira, 6 de maio de 2010

Bate & Rebate


Bate & Rebate
Miguel Garcia

Alguns líderes religiosos não diferem de modo algum da gente “mundana” quando se trata de zelar por seus interesses e de defendê-los; mas quando é preciso cumprir um dever penoso, eles têm a prudência de passá-los aos outros e de rebatê-lo como uma bola. Há deveres da religião, assim como os há do governo do Estado: o presidente os transfere aos governadores, governadores aos prefeitos. Muitos líderes religiosos, por modéstia, deixam o exercício da piedade ao povo. O povo confia no que ele chama de homens de Deus, aparentemente acreditando que nada tem em comum com a igreja e que um sujeito se torna chefe religioso (padre, bispo, missionário, apostolo ou pastor), por intervenção divina: o Deus escolheria uma beldade para um cargo ou função específica na igreja. Os pastores que se dizem seculares, como se tivessem orgulho de pertencer ao século e não a Jesus Cristo, passam a bola a outros pastores seus subordinados, estes últimos a seus presbíteros, os presbíteros aos diáconos, os diáconos aos auxiliares, todos juntos passam-na às mãos dos missionários em cantões remotos do mundo, de modo que é nesses lugares extremos que a piedade se esconde, e tão bem escondida que lá quase nunca se pode vê-la. Do mesmo modo os curandeiros do corpo e ou da mente, tão ativos quando se trata de colher a rica colheita de seus proventos, deixam aos seus subordinados todos os trabalhos um pouco demasiado apostólicos; os bispos os transferem aos pastores, os pastores aos ministros de louvor e presbíteros, estes últimos aos diáconos, os diáconos aos auxiliares, e estes passam o cuidado de zelar pelas ovelhas aos que sabem tosá-las bem: a bola do jogo religioso não para nunca: bate e rebate! Adaptado de texto de Erasmo - Elogio da Loucura

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