terça-feira, 2 de março de 2010

Ta tudo do-minado!

Ta tudo do-minado!
(Sobre ex-pressão corpor-ALL)
Miguel Garcia



Hiperbólica a importância que o imaginário social dá ao corpo e a sexualidade. Mulheres sensuais e seus freqüenta-dores vorazes reluzem em destaque permanente. Reina o olhar que sensualiza as linhas corpor-ais fe-mininas, erotiza os gestos, fragmenta a total-idade, reduz, cois-i-fica, nor-matiza psicoses, condena, despersonaliza e por fim, nega a pessoa humana em plenitude.
Soube de Intelectuais livrescos e misóginos que devastaram as paisagens do imaginário coletivo com idéias que distorceram as faculdades com que nosso espírito cria imagens, representações e fantasias, dentre os tais desprezíveis, destaco G. Freyre e C. Prado.
Propostas como o "saneamento da raça", produção de um povo higiênico, saudável, limpo e belo e, a cura da fealdade, foram disseminadas em publicações abundantes. Os homens e mulheres “cultos” do Brasil, referenciados pelas teorias racistas européias, deflagraram poiese alta-mente destrutiva.
Prossegue implacável a sujeição aos padrões dominantes de existir, da aparência à subjetividade: Pedagogia dos corpos, educação dos sentidos, autocontrole e pouca expressividade emocional – práticas da dominação. Para além das mentes, esse poder mundico estende-se sobre os corpos, os gestos e as individualidades, ameaçando capturar a própria vida.
Queira ou não, o indivíduo acaba por atuar na política racista de domesticação dos corpos de indivíduos.
Fiquei sabendo de doutores que são obcecados com a higienização de todo o povo brasileiro, com o branqueamento da raça e com a domesticação das mulheres. Soube que esses últimos também definem o corpo masculino belo, enquanto estigmatizam o seu oposto, o do homem pobre, feio e "preguiçoso": discursos das elites, polarizando com os ideais de pureza e limpeza - autoritarismo de quem entende que embelezar toda uma população implica corrigir e adestrar os diferentes, para torná-los um todo homogêneo e coeso à imagem do Homem.
Maldito o conceito de que o homem capaz de talhar no mármore a Vênus, também seria capaz de moldar plasticamente toda a humanidade, mal-dito.
Soube também que o que se pretende como melhoria do povo resulta em pedagogia totalitária da população, em biopolíticas. Soube que Monteiro Lobato propôs a esterilização dos negros como método radical para branquear a raça, entendendo como possível "o conserto do mundo pela eugenia: ideário nacionalista e racista.
Como essas concepções tão excludentes e hierarquizadoras ganharam crédito e tornaram-se hegemônicas em toda, ou quase toda a sociedade, repetidas como verdades, sem maiores questionamentos? Margareth Rago explica!
Ditadura do corpo e da beleza: a exigência número um para a aceitação e o sucesso tornou-se a própria expressão corpor-ALL.


Sou negro
Negro sou sem mas ou reticências
Beiço
Pixaim
Abas largas meu nariz
Tudo isso sim
Negro
e pronto!...

Poema em versão modificada,
faz parte de capítulo do livro Literatura afrobrasileira

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