quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Evangélicos sob uma luz não muito lisonjeira


Evangélicos sob uma luz não muito lisonjeira
Miguel Garcia

Sob uma luz, buscando abrigo nos poderes reais ou imaginários da pessoa central – objeto transferencial – do líder religioso, chefe – füher – pai potente e autoritário – do número um – aquele que, “vendo mais longe”, é poderoso ou astuto o bastante para dirigir faculdades e paixões alheias no sentido dos seus planos.

Sob uma luz, utilizando seus comandantes para garantir imortalidade. Sob uma luz, imaginando não estarem abandonados nessa terra, enquanto o pastor, bispo ou o apóstolo estiver vivendo nela.

Sob uma luz, expressando, não um mero desejo, ou um pensamento consolador; mas uma crença impelidora de que o mistério e a solidez do “homem de Deus” lhes darão abrigo, enquanto esse “filho do céu” viver.
Sob uma luz, divinizando o outro, em constante ação de colocar certas pessoas selecionadas em pedestais, de atribuir poderes extraordinários às mesmas: quanto mais possuem, tanto mais podem passar delas para nós.

Sob uma luz, imaginando-se participantes da “imortalidade” de outrem e criando imortais. Sob uma luz, certos de que estão produzindo uma impressão mais profunda no cosmos, porque conhecem esta pessoa famosa que as influencia. Sob uma luz, sonhando que quando a arca zarpar, estarão nela. Sob uma luz, famintos de material para a própria imortalização, o que explica a tamanha sede por heróis. Sob uma luz:

“... todo grupo, quer seja grande ou pequeno, tem, como tal, um impulso individual por eternização, que se manifesta na criação e desvelo por heróis nacionais, religiosos e artísticos... o indivíduo prepara o terreno para este impulso coletivo rumo à eternidade”... Otto Ranck

Sob uma luz, sob a mana admirável de um patrão que sintetiza em si algum grande projeto heróico que arrebata o povo. Sob uma luz, vejo o reflexo da covardia ante a vida e a morte, mas também o impulso para ações extraordinárias e para o desabrochar de cada um, sob uma luz não muito lisonjeira...

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