terça-feira, 24 de novembro de 2009

Dis-sim-u-lados!

Dis-sim-u-lados!
Miguel Garcia

Não anunciaram aquilo para que o ser humano foi essencialmente criado e não denunciaram os esquemas que atentam contra o seu destino.
Não desnudaram as falsas transcendências com que a cultura investe para responder à busca fundamental do ser humano, empobrecendo-o e frustrando sua procura.
Não desmascararam religiões travestidas de únicas intermediárias para alcançar o transcendente e que procuram enquadrar com suas normas e verdades absolutas.
Não demonstraram paixão sem paralelo - paixão que vê, compreende e traz à tona ocorrências do presente.
Não atacaram as práticas religiosas dominantes em seus dias, patrocinadas e celebradas pela cumplicidade de adeptos, pela moderna classe sacerdotal, por políticos corruptos e cartéis do tráfico que lavam dinheiro através das instituições.
Não associaram o sagrado à justiça ou à misericórdia, jamais.
Não foram porta-vozes dos desgraçados da terra.
Não se fizeram compreender pregando a igualdade e a liberdade.
Não exigiram o fim das práticas de opressão.
Não reclamaram a devolução da vida e alegria aos pobres, sofredores, aos fracos, aos estrangeiros, aos órfãos e viúvas – aos que se encontravam fora dos círculos de riqueza e do poder.
Não foram proibidos de falar, perseguidos ou mesmo mortos.
Não lutaram contra o poder estatal nem se confrontaram com os representantes de religiões que negam a legitimidade e singularidade das pessoas.
Não dirigiram denuncias àqueles que sacralizavam e justificavam a exploração e o abuso, envolvendo tais práticas na aura da aprovação divina.
Não disseram a verdade, enganaram para salvar a própria pele. Pretenderam esconder rachaduras na parede com uma mão de tinta rala.
Não foram eles mesmos - inteiros, tampouco nutriram-se de humanidade ou semearam o bem comum.

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