quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ilustr-ação


Ilustr-ação
Miguel Garcia
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Deus não existe. Tampouco a escuridão e a morte. Inferno existe.
Dubai não existe, nem mesmo São Paulo existe. Lavras sim e, pelo que pude comprovar, a África sub-saariana existe, racismo, preconceito, discriminação, favelas e Apartheid velado, ídem.
Incrível como a inveja, o dinheiro, o poder e, até mesmo a cumplicidade de escravos "assalariados", movem tudo no planeta. Não há rivalidade relativa - Caim que reconsidere, Abraão que não descarte.
O sofrimento massivo, duradouro, injusto e cruel da miséria e da exclusão - o caos que a injustiça impulsiona, segue curso implacável, sem chance de ser detido. O termo predador rês-ume com perfeição o comportamento
do animal humano. Não existe quem não projete o ter no ser. Não existe quem não ceda à pressão da ansiedade.
E para piorar a situação de quem já navega sem oriente, relação sexual não existe. Assimetria, sensação dolorosa do paradoxo existencial, repressão, culpa, dificuldades de irrigação sanguínea, descompensações hormonais, disfunções fisiológicas e barreiras psicológicas, desperdício, tédio e chatice, existem. Regressão a serviço do ego, não existe. Caráter não existe. Técnicas pelas quais evitamos nos tornar conscientes de verdades desagradáveis ou perigosas, existem:
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"Mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões". (William Shakespeare).
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Covardia existe. Terror existe, demência existe, o Diabo não, demônios existem. Evangélicos não existem.
Promoção definitiva - última ascensão ritual a uma forma superior de vida, fruição de alguma espécie de eternidade, não existe.
Não existe mundo encantado.
Não existem verdades escassas, fugidias e superáveis, tudo sufoca.
Tanto brilhantismo em palavras, descobertas geniais, refinamentos embriag-a-dores, lindas pinturas religiosas da "verdade" e, no entanto, a mente do animal humano permanece muda, enquanto o sistema rodopia em demoníaca corrida secular. Não há um centro vital pulsante. Não há sabedoria que tolere opiniões opostas. Não há não desesperados e absortos. Não há quem não recrie o mundo inteiro a partir de si mesmo. Não há quem evite o egoísmo. Não há quem não deseje sobressair e ser único na "criação" - ente centr-ALL do universo - o melhor cosmicamente. Não há quem não cultue heroísmos, quem não tema a morte - motor de ações humanas. Infelizmente não há cura para perversão do ter. Nada faz sentido e nada faz sentido, tudo é limitado e angusti-ante.
A vida é como "um oceano, pra lavar as mãos"...
Não há porque concordar com essa ilustr-ação. Vassum Crisso - Miguel Garcia

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