quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

É-di-po rei no chinelo!

É-di-po rei no chinelo!
Miguel Garcia


Chego as raias da loucura em meio a tantas contradições, no orbe do amor e hostilidade, muito comuns em minha história de vida, uma vez que sou casado com uma pastora, e o mundo infantil - a terra do nunca onde habitam seres religiosos tende a resumir pessoas que se ocupam dessa função a figuras parentais ou a representantes destas, caracterizando, segundo o que imaginei, um perfeito quadro de complexo de Édipo: “amor” à mãe (pastora), ódio ao “pai” seu marido, este último, não raras vezes, percebido como o grande vilão interditor do gozo infante no iludido imaginário eclesiástico, daí as exigências de proteção e amor total por parte dos “par-entes”- carentes, patologia que seria ainda mais reforçada pela noção de que “recém nascidos" têm direito a cuidados intensivos, talvez até a exclusividade, por conta de sua “frágil condição”. Sendo esse o caso, essa proteção-exigente seria ainda mais facilmente relacionada e de maneira mais significativa, à figura materna (um pastor-mulher).

Chega o tempo em que a criançada da religião começa a entrar em contato com algumas situações em que sofrem interdições. Estas interdições são facilmente exemplificadas pelas “proibições” que inevitavelmente começam a acontecer a certa altura do caldeamento das relações. Basicamente a criança, segundo o que possa imaginar, já não pode mais fazer certas coisas porque já está “grandinha”, não pode mais passar a noite inteira no colo ou berço pastoral, berrar suas exigências, é incentivada a portar-se de forma correta e controlar seus impulsos, além de outras cobranças.

Neste momento, os “meninos e meninas” da coisa religiosa começam a perceber que não são o centro do universo e precisam renunciar ao mundo organizado em que se encontram e também à ilusão de proteção e amor total, diferenciarem-se em relação a “seus pais”, perceberem que os “pais” pertencem a uma realidade cultural e que não podem se dedicar somente a elas, porque possuem outros compromissos e suas próprias vidas. É aí que a figura do “pai” representa a inserção da “criança” na cultura. “Pertencente à mãe”, passa a ser alvo de sentimentos hostis e contraditórios por parte da creche que supostamente também ama essa figura que hostiliza (é preciso ter fé pra acreditar nisso, mas tudo bem).

A coisa toda parece ficar ainda mais complicada porque segundo o que entendi da teoria do Complexo de Édipo, a diferenciação do sujeito é permeada pela identificação da “criança” com um dos pais imaginários - a madre pastora e seu pobre mártir-marido. Aqui no Sur de Mins algumas pessoas falam em família pastoral, casal de pastores, sempre que ouço tais sentenças fico todo arrepiado.

Voltando ao desa-bafo-de-onço, quando acontece o que na psicologia se chama de identificação positiva, o “menino” identifica-se com o pai, o que já seria loucura para uma “criança” da religião, sobretudo se os pais atuam com papeis trocados, e a menina com a mãe (no caso das “meninas” essa coisa complica e muito). O “menino” tem o desejo de ser forte como o “pai”, (isso se o “pai” já não for um tipo de “fraco inútil”-artista), como é meu caso, e, ao mesmo tempo, tem “ódio”, por ciúme da mãe (Aí de mim, que estou perdido!). A menina pode ficar hostil à “mãe” porque ela possui o “pai” e ao mesmo tempo quer se parecer com ela para competir e tem medo de perder o amor da “mãe”, que foi sempre tão acolhedora. Na identificação negativa, o medo de perder o hostilizado faz com que a identificação aconteça com a figura de sexo oposto e isto pode gerar comportamentos homossexuais orgânicos e ou psíquicos (Virgem Maria!). Nesta fase, segundo o que pude compreender, a repressão ao ódio e à vontade de permanecer em “berço esplêndido” é muito forte e o sujeito religioso desenvolve mecanismos mais racionais para sua inserção cultural: sai do reinado dos impulsos, dos instintos e passa para um plano mais racional (amadurece). A pessoa que não consegue fazer a passagem da ilusão de superproteção para a cultura (inferno das rel-ações humanas), psicotiza. A essa altura o “pai” já morreu ou ficou louco de pedra como eu. A madre pastora, coitadinha, toma remédio todo santo dia pra continuar enganando a morte - não entendo bem o porquê.

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