quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Desa-bafo-nausea-bundo

Desa-bafo-nausea-bundo
Miguel Garcia


Sem vender ilusão como é que se ganha dinheiro?

Você diz a verdade, a pessoa ouvi, quando o faz, e, talvez regresse à vida sem reverberar gratidão, se houver alguma disponivel. Talvez até mostre-se irremediavelmente magoada por ter sido despertada de um pesado sono que a mantém sob estado de suspensão, talvez quebre o espelho que tão bem a tenha refletido...

Contudo, se você mente, ilude com algemas nas palavras, se projeta a si mesmo na imagem de um Deus carrasco e impiedoso, se ergue o horrendo em meio à multidão, semeando medo e angústia, se você age de modo paternalista e autoritário, se domina e oprime, se brada o "oráculo": eu sou O PAI! Creiam em mim, tratem de obedecer-me e sejam agradecidos, caso contrário...
Pode ser que ganhe um discípulo leal e disposto sacrificar-se como um escravo no calvário de seus ideais, mão de obra na tarefa de transformar seu pequeno jardim em um imenso oásis suspenso, protegido e repleto de delícias!
Ando muito triste, pois já não abrigo ilusões...

Meu amigo poeta e pensador Paulo Cruz, num gesto de amor delicado e militante, assim que notou meu desamparo frente à realidades torturantes, consolou-me com as seguintes palavras: “graças a Deus por você ainda estar vivo!”, “graças a Deus pela arte ter-lhe salvo!”, e completou meu êxtase citando um de seus iguais no seguinte verso:

“Quando a inocência tem os olhos vazados, um cristão deve perder a fé ou aceitar que lhe furem os olhos” (Albert Camus)

Um comentário:

Paulo Cruz (PC) disse...

Pensa-dor, só se for!

O Caminho do Cristo não é outro senão este mesmo: perder a vida para ganhá-la.

Mas, os Cooperfields religiosos estão à solta, iludindo e sendo iludidos.
E confesso não sei qual potestade mais nociva: se aquelas que figuram no cenário descaradamente enganoso, violentando famílias inteiras em nome de um pseudo-reino aqui na Terra — E contra isso o vaticínio de Ezequiel 34 me conforta —; ou aquelas que, fazendo-se de intelectuais e compreensivas, sobretudo de piedosos entendedores das mazelas humanas (que eu chamaria carinhosamente de defensores da carnalidade inerente), mesclam com perfeição suas camisas La Coste com anéis de tucum, seus templos geradores de sua riqueza com sermões sobre Missão Integral (ou Teologia da Libertação), seus discursos contra o poder com manifestações do próprio poder, seus textos logorréicos com sentimentos ambíguos, a firmeza de suas posições com a titubeante maneira de defendê-las, e, assim, seguem, igualmente iludidos e iludindo outros tantos doentes.

D.H. Lawrence escreveu, em seu intrigante estudo sobre o livro do Apocalipse, que não poderia compreender a figura de um Leão associada à figura de um Cordeiro, ou mesmo a expressão “A ira do Cordeiro”; achava-a antagônica demais (um cordeiro irado?!). Ele sempre terminava por imaginar a figura de um Cordeiro ensangüentado e essa imagem o aterrorizava.

Se Lawrence vivesse nos tempos atuais, entenderia perfeitamente!


Abraços,
PC