quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Cânc(s)er

Cânc(s)er
Miguel Garcia

Doença provocada pela reprodução descontrolada de células malignas e independentes de qualquer tipo de controle pelo organismo, acarretando a invasão de tecidos e órgãos, provocando alterações orgânicas.

Um observador desatento, sem discernir a presença do mal que jaz progressivo, ou mesmo sem refletir sobre as trágicas conseqüências de um misterioso aumento de volume em partes do conjunto, bem que poderia confundir inchação circunscrita com o bom aumento de massa corpórea - crescimento do corpo.

Ao que tudo indica, o mesmo se dá com mega-igrejas de São Paulo, em contraste com as "sofríveis" comunidades evangélicas do interior de Minas, ou seja, para as sociedades religiosas dos grandes centros urbanos, alguns tumores são “benignos”. Só que por fim, os "vermes" da terra sempre terão a mesma lucra-ti-vida-de...
E abrindo mão da hipocrisia amásia, eu diria que fora da doença mortal não existe sonho possível, ou será que existe?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Alma per-seguida

Alma per-seguida
Miguel Garcia

Selvagem -
agreste princípio de vida.
Amiga das sombras,
translúcida à nudez de olhares,
alheia, silenciosa e rude,
voraz de afetos e paixões cruas,
a alma.
Camuflada em galhos de esquecimento,
entre as folhagens de memórias entorpecidas,
presságios de castigo ou malefícios,
prenúncio do temível,
desgraça ou doença mortal.
A alma sobra dorida e sem destino,
acuada e exposta ao tempo.
Forma o salto sobre as patas traseiras,
tremula de horror e espanto.
Distante da toca e embaraçada em cerco fatal,
compelida a livrar-se a todo custo,
teima rangendo as presas,
sem, contudo, escapar do destino.
A alma na mira do olhar caça-dor –
do bem ou do mal,
penetrada por seta de um desejo agudo,
suspira e entrega-se à "perdição".
Quem dera pudesse vagar
sem que fosse per-seguida...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Um negro só -, será quando crê-s-cer, só.. será... um negro... só...
Miguel Garcia

Certa feita um menino regressando do colégio entra em casa e vai logo se livrando da mochila pesada, sua mãe o vê, corre para abraçá-lo e beija-o ternamente. Excitado pela corujisse da mãe, o garoto relata com orgulho seu bom desempenho em mais um dia agitado na escola. Finalmente de volta ao conforto uterino - à companhia materna, sente-se mais ou menos à vontade para deixar escapar uma pergunta que nunca saíra da ponta da língua:
- Mãe, porque eu tenho que estudar?
Sua mãe, fitando-o com um olhar de veludo que acariciava, procurou semear no filho a primeira resposta que lhe veio à mente:
- Meu filho, você deve estudar para ser alguém na vida, pois a um negro nunca será permitido ser apenas “bom” naquilo que fizer. Um negro será constrangido a ser o melhor: um Pelé, um Mandela, um Luther King, Hendrix, Barack, um Assis, Cruz e Souza, uma beldade, onipotente e sempre pronto a milagrar seus feitos, não importando o fato de que uma pirâmide costuma ser estreita demais na extremidade. Contudo, não é certo que agindo desse modo, sendo capaz de proezas colossais, sendo dócil e previsível feito uma vaca hindu, que um negro estará garantido e seguro, podendo viver em paz. Do contrário, se os negros forem preguiçosos e medíocres, estarão apenas confirmando a expectativa e previsões gerais a seu respeito. Caso sejam esforçados e excelentes em tudo que empreenderem é certo que atrairão ressentimentos, invejas, perseguições implacáveis e, por fim, exclusões e descartes desabarão sobre seus sonhos como uma tempestade de fogo, tudo em nome de Deus, da ordem do progresso e dos “bons” costumes burgueses como já é de praxe.
E por fim meu filho, você deve estudar porque se existe uma instância entre um extremo ou outro de opressão, é aí que um negro habita e só o conhecimento levará a ela. E ainda temo dizer que o mundo é tão brutal e intolerante com negros, pobres, velhos, mulheres, crianças e indígenas, que mesmo nas artes e literatura, quando lhe é conveniente retratar o próprio Deus despido de bom nome e dignidade, moldar os contornos do divino à semelhança daquilo que consideram o pior das maldições existenciais – o que segundo imaginam constitui o que há de mais instintivo e vegetativo, coisificado e consificante, o Deus à imagem desse mundo-“artista”-criador adquire silhueta feminina, cor negra, perfil obeso, demonstra habilidades em trabalhos braçais e prendas domésticas, qual mucamas e amas de leite das casas senhoriais de ontem e de hoje, qual a submissa dona Benta de Monteiro Lobato, qual o Papai da ficção de William P. Young - A CABANA.
Pobre filho da mãe que ao fim de tudo permaneceu assim como estou agora, sem entender absolutamente nada a respeito de coisa alguma dos porquês da vida!


Que ventura a minha!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Psicologia da Inveja

Um ventrudo sapo grasnava em um pântano quando viu resplandecer no mais alto de uma pedra um vaga-lume. Pensou que nenhum ser teria direito de luzir qualidades que ele mesmo não possuiria jamais. Mortificado pela sua própria impotência, saltou em direção a ele e o encobriu com seu ventre gelado. O inocente vaga-lume ousou perguntar ao seu algoz: Por que me tapas? E o sapo, congestionado pela inveja apenas conseguiu interrogá-lo: Por que brilhas?
José Ingenieros em "O homem medíocre", Ícone Editora, p. 156.
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Eu até que tentei viver minha vida - reluzir música, cintilar poesia...
Só não me dei conta de todos aqueles batráquios à espreita, vigiando, prontos pra saltarem sobre mim com seus corpos obesos de admiração infeliz, dispostos a encobrir-me à sangue frio e paralizar com toques gélidos cristalizadores...
Só não me dei conta de que para se cumprir o destino dos pirilampos, tem-se que escapar de anuros - os "destituídos" do pantano.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ar-age-m - Miguel Garcia

Horrenda coisa é cair nas mãos da deusa viva!
O Deus homem jamais negou a existência de outrem,
respondia, mesmo que fosse pra dizer: arreda Satanás!
Como pude fazer tudo ERRADO na vida?
Como pude ser tão dis-traido?
É tudo tão vazio nessas horas, sem sentido...
"...Se hoje sou deserto
É que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força
E a ventania
Vem mais forte...
Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito me deixou
Há muito me deixou...
...não acredito mais no fogo engênuo da paixão,
são tantas ilusões perdidas na lembrança,
nessa estrada só quem pode me seguir sou eu"...(Graco e C. Sílvio)
Crê nos investimentos das prefeituras e não serás salvo: nem tu nem tua casa.
Miguel Garcia
Janeiro a maio, eis o período mais crítico no combate à Dengue.

Um levantamento divulgado pelo Ministério da Saúde, baseado em dados referentes ao período de janeiro a setembro deste ano, aponta que dos 481.316 casos de dengue notificados no país 43% (206.143) foram registrados em municípios com até 100 mil habitantes, como é o caso de Lavras sul de Minas. Para o presidente da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Roberto Ziulkoski, essa situação se deve a problemas de saneamento nos pequenos municípios e na zona rural.

O levantamento aponta, ainda, que apenas 14% dos casos de dengue ocorrem em municípios com mais de 1 milhão de habitantes e que 27% estão nas cidades que têm de 100 mil a 500 mil habitantes, enquanto aquelas na faixa até de 500 mil a 1 milhão concentram 16% dos casos.
As prefeituras não têm estrutura ou recursos para "um combate mais efetivo".

Talvez alcancemos o ano, o mês, o dia e a hora em que a mensagem de vida e esperança alardeada dentro e fora das "igrejas" do sul de Minas seja:

Lavemos os pratos de plantas e xaxins com bucha para eliminar ovos do mosquito ou troquemos a água por areia molhada nos pratos
- limpemos calhas e lajes
- lavemos bebedouros de animais com bucha, além de trocar a água
- guardemos garrafas vazias com a boca para baixo
- mantenhamos o lixo sempre fechado
- tampemos caixas d'água e poços

Enquanto janeiro não chega pondo um fim à trégua da morte - morte alada e sedenta por sangue, façamos todo o possível pra vivermos bem e amarmos ur-gente-mente, enquanto ainda dispomos de vida,

Amém

sábado, 15 de novembro de 2008

Or-ação in-confessa

Or-ação in-confessa
Miguel Garcia
Glória a Mammon nas baixezas
e paz no meu quintal a despeito das injustiças.
senhor deus dos opressores, pérfido todo-asqueroso:
nós vos invejamos,
nós vos imitamos,
nós vos adornamos para que assumas um contorno de beleza e poesia,
nós vos cobiçamos mesmo quando açoitados por vosso aguilhão,
receba nossas almas, dê-nos prazeres ilimitados em troca.
vós que reclamais sacrifícios incessantes, serão vossas as nossas primícias , aceite nosso ser acorrentado;
vós que sois a causa das misérias desse mundo, livre a nossa tenda,
livra-nos de sermos tão somente nós mesmos perante o Deus e a história da humanidade, livra-nos da ousadia louca de dizermos eu sou e de amarmos qualquer pessoa,

Amém!

Blas-fêmia

Blas-fêmia
Miguel Garcia

Quando eu falei em deus:
Teu silêncio me atingiu como um açoite
Teu poema se ausentou por várias noites
Essa ausência confirmou minha suspeita:
Não és tua, não te das por satisfeita!
Hoje mesmo pedirei a tua alma
Saberás que o teu conforto não te acalma
Saberás que o teu deus é o próprio ventre
Saberás que estás à morte, que és doente
Hoje mesmo pedirei tua ternura,
teus afetos, teu amor tua candura.
Hoje mesmo tu verás do que és feita
És mulher, és poderosa e imperfeita

Quando eu falei em deus:
Teu silencio me atingiu...
Teu poema se ausentou
Algo veio, algo partiu,
desse ateu que agora sou
Quando eu falei em deus...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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UM NEO-ATEU VISITA O SERTÃO -


Seu cangaceiro
porque tanto desatino?
Não há Deus, não há destino,
nem há céu onde morar.


A vida é isso,
muita dor, muito conflito,
mas condenação, repito,
é viver a esperar

alguém que venha
lá do Alto respondendo,
meus problemas resolvendo,
sem que eu saiba onde está;

onde se esconde
esse ser tão desligado,
que não vê o resultado
do que resolveu criar.

Por isso eu digo,
Somos sós, é só matéria,
viemos das bactérias,
a ciência vai provar;

com Charles Darwin,
pai da nobre teoria
(era tudo que eu queria!):
de que a vida vem do mar.

E evoluindo
toda terra, toda espécie,
tudo nasce, tudo cresce,
não sei onde vai parar!

Diria Sartre,
eu o li e te garanto,
é o homem, sem encanto,
condenado a vagar.

E sem comando
ou escolhe a aventura,
sem abonação futura,
ou melhor é se matar.

À minha vista,
li num livro marxista
que a vida é uma conquista
do trabalho a prosperar.

Onde o povo
tem dinheiro sem limite,
todo mundo (acredite!);
pobres? Em nenhum lugar!

Ou pelo menos
tem comida, moradia,
tudo isso é garantia
do governo singular.

Em tais leituras
(mais moderna impossível),
que engenhosidade incrível,
nisto eu quero acreditar.

Não nesse livro,
que escrito há tanto tempo,
por um povo desatento
que não sabe seu lugar.

Espalha o ódio
não a paz, como professa,
seus desvios não confessa,
só sabe dissimular.

E concluindo:
seu estômago roncando
e este sol te estrangulando
não há como resolver.

Me dê teus dados
que voltando ao mundo ativo,
mando-lhe um donativo,
é só o que posso fazer.

E respondendo,
o sofrido cangaceiro,
com pensamento ligeiro
mesmo a fome a o atacar:

Seu dotozinho,
me desculpe, sou sincero,
sua solidão não quero
e lhe digo, quer ouvir?

Aqui no seco,
onde não há segurança,
só se vive de esperança,
tenho um Deus a quem pedir.

Se eu me enfronhasse
Nessa tua maluquice
"Não há Deus!" - Foi o que disse?
Como iria resistir?

De um escritório
é tão fácil palavrório,
mesmo esse tão simplório
pra grã-fino discutir.

Mas no cangaço
esse assunto dá cansaço
e aqui não há espaço,
eu não posso desistir.

(Paulo Cruz)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Há dias em que estou noturno!

Noturno
Composição: Graco / Caio Sílvio

O aço dos meus olhos
E o fel das minhas palavras
Acalmaram meu silêncio
Mas deixaram suas marcas...

Se hoje sou deserto
É que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força
E a ventania
Vem mais forte...

Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito me deixou
Há muito me deixou...

Ai, Coração alado
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
No fogo ingênuo, da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança...
Nessa estrada
Só quem pode me seguir sou eu!
Sou eu!
Sou eu!
Sou eu!...

Tabu

Tabu
Miguel Garcia

O Martinho,
não o da Vila, mas o Lutero,
tocou num assunto sério:
é preciso conversão
da mente, bolso e coração.
Destas três, que bem se ouça:
a mais difícil é a da bolsa.

Falar em morte, droga e sexo tudo bem.
Até parece, perspicácia no discurso de alguém,
mas de dinheiro,
vá pro quarto, tranque a porta,
e a janela, fecha ela!
o assunto é sério pra chuchu.
Mas que tabu!

E, contudo o dinheiro,
foi o assunto mais freqüente,
no discurso de Jesus.
Com exceção do próprio reino,
reino que já é chegado,
pra nos inundar de vida e trazer-nos para a luz.

E voltando ao “dinheiro” e ao ensino do Senhor:
Quem se lembra da viúva que deu tudo com amor?
E Jesus ficou sentado, olhando tudo bem de perto,
de cada um que ofertava, discernindo o modo certo.

Pra Jesus o assunto dar,
nunca foi particular.
Não ficava encabulado,
nem olhava pro outro lado
Não se achava intrometido,
em negócios pessoais.
A oferta é coisa pública!
e ainda en-Si-nou mais...

Pode dar com alegria sua oferta ao Senhor
Ele mesmo ensinou isso dar é um ato de amor
Pode dar com sacrifício sua oferta ao Senhor
Ele mesmo ensinou isso dar é um gesto de louvor
Pode dar com fantasia sua oferta ao Senhor
agora eu mesmo ensino isso: dar é urgente, por favor!

Pode dar com alegria,
Pode dar com sacrifício,
Pode dar com fantasia,
Pode dar com tudo isso
sua oferta ao Senhor
agora eu mesmo ensino isso
Dar é urgente, por favor!!!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

HCG Revela-dor

HCG Revela-dorMiguel Garcia
Talvez eu seja bom por dentro e ainda não saiba disso.
Talvez um anjo venha ajudar-me a descobrir a beleza escondida em meu ser desfigurado, caso haja alguma, talvez minha porção mulher, meu reflexo, aquela que no fundo de mim ainda sou eu mesmo esteja perto de chegar...

Não estou acostumado a ter companhia, preciso me habituar com isso.
Passei a vida inteira na merda, nunca ninguém me ajudou.
Sinto-me mais atolado que nunca, porque agora não tenho mais desculpas, a ajuda chegou, está bem aqui e quer fazer amor urgentemente...

Um HCG imaginário revelou que fiquei grávido de beleza após ter assistido o filme do diretor Luc Besson (ANGEL-A), com os brilhantes atores Jamel Debbouze no papel de André e Rie Rasmussen no de Ângela, um poema de se ver...

Tomografia de uma realidade infeliz

Tomografia de uma realidade infelizMiguel Garcia

Qual a razão dessa tortura?
Papo de mulher sem assunto, de mulher que não aprendeu a viver com as idéias, que não sabe o que significa discussão, prova e ilustração, de mulher que jamais possuiu ou que abandonou qualquer verniz de cultura logo após ter ingressado no casamento, de mulheres cuja conversa é quase inteira-mente narrativa, que só lê revistas femininas - mulher aborrecida e silenciosa quando somadas às rodas masculinas, dessas que carecem de que as coisas lhes sejam explicadas e de que suas observações irrelevantes e inoportunas sejam sublimadas para que ganhem algum significado, dessas que diluem e desviam o que poderia ser uma discussão agradável, transformando-a em mexericos, anedotas e pilhérias?

Enlouquece o papo de mulheres que com seus corpos presentes destroem justamente aquilo que deveriam partilhar - mulheres que me fazem suspirar de desgosto por não terem aprendido a serem mais do que apenas mal adaptadas, “mulheres”.

Inspirado nos textos de C.S. Lewis, de seu livro: Os Quatro Amores

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Simbol-orgia - Miguel Garcia

Haverá um só vagar onde a fálica obsessão não esteja metida: cova vazia, ausência torturante, toca abandonada e soturna?..
Em verdade eu Falo, tu Falo, nós Falos e ainda Fa-lo-emos de um amor que não ousa dizer seu nome, pra além de toda culpa, vergonha ou maldição, pra além da fronteira da morte, inferno de pecado ou paraíso doce de um pavor que não Falo.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Or-ações

Or-açõesMiguel Garcia
Singela homenagem a Miriam Makeba, cantora sul africana símbolo da luta contra o apartheid:
Ave-Mama, cheia de graça!
Nosso louvor é convosco
Bendita sois vós entre as mulheres
E Bendito é o Fruto do vosso canto, que con-duz
Canta Makeba aos negros eus,
Cantou por nós sonha-dores
outrora, até o limite de sua sorte, e além...

Cômico existênci-ALL

Cômico existênci-ALL
Miguel Garcia

Meu nome é Miguel, Miguel Garcia.
Tenho ? anos. Sou casado, tenho uma filha e sou cidadão americano, latino americano.


?, onde moro atualmente, é um lugar maravilhoso, pena que, ocupado como sou, não possa tirar proveito disso.
Sou músico, compositor e poeta, faço shows em ?, ?, ?, ?. Não tenho tocado muito no ?... O que realmente adoro é ficar no meu apartamento com vista para ? (o "Central Park" daqui).


Fiz muitos amigos em ?. Eu esperava que os ? fossem hostis e desconfiados - ainda refletindo o modo de vida senhorial e escravocrata, por um lado, portadores de vícios mentais provincianos - oprimidos e conformados, por outro, contudo, não pude confirmar meu prognóstico facilmente, talvez meu comportamento simpático, agradável e generoso tenha feito toda a diferença necessária.

Não me viro mal na cama! É, eu estou indo muito bem, acho que... com certeza!
Posso dizer que sou um cara muito legal: boa pinta, extrovertido, confiante, empreendedor, e muito, muito satisfeito comigo mesmo e com o resto do mundo, odeio Kierkegaard...

Isso é tudo o que posso dizer a meu respeito: o que eu gostaria de ser, o que sonho ser, porque eu sou mentiroso, eu minto para mim mesmo e pra todo mundo, o dia todo.

Adapt-ação do monólogo introdutório do André - personagem do filme: Angel-a. Mentira?...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Jurassic Morte

Jurassic Morte
Miguel Garcia


Pobre Raquel! Tão só e vulnerável em seu trajeto diário pelo PARQUE DOS DINOSSAUROS (grande centro urbano), em sua breve existência. Sem saber, despertando vorazes instintos de criaturas geradas no útero de uma sociedade que a muito perdeu qualquer vestígio de sensibilidade humana, agindo afora do bestial, predatória e afincada no seu parecer - sociedade sem gravidade... Senhoras e senhores: estamos flutuando no espaço e a ordem geral é gozar a qualquer preço!

Pobre Cristo-Menina brutalmente assassinado na via crucis da rotina, antes mesmo do calvário juvenil das incertezas, madeiro e pregos pontiagudos da duração ordinária – consciência dorida e orfandade inevitável, sendo filha de pais separados, do martírio e descarte da velhice – elev-ações torturantes que asfixiam.

Malditos os que não suportam a inutilidade da infância, os que exigem sinais e prodígios de um Messias-infante, malditos os que com o mesmo fôlego atiram hosanas nas alturas e palmas, escárnios e sentenças de morte aos inocentes, os que vigiam as esquinas da cidade pra surpreenderem anjos mensageiros dos céus, malditos sodomitas fabricantes de ambientes infernais – demônios de demônios!

Perdão Raquel! A fera horrenda que a observou com admiração infeliz e desesperada, que não suportou abandoná-la à sua glória de menina-“deusa”, que cobiçou seu frágil corpo flutuante por não conter o peso das desarmonias, malícias e preocupações inúteis, e desejou limitá-lo e torná-lo inerte, esse ser ferido pela irradiação da ternura do seu semblante sublime, ao ponto de cegar de fúria louca - esse disforme que a elegeu, arrastou, seviciou e esquartejou, foi gerado pela ganância ensandecida, obsessão cruel e perda total do Sentido de viver, nossa so-ciedade perdida, nosso descaso e desamor.

Perdão Raquel, perdão pelo pecado de todos nós!

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OBAMA


A cor que vai correndo pelo mundo,
nas urnas que anunciam novo tempo,
tornando tudo negro ao redor - tudo!
mudando a cor do sonho americano
nas faces brancas rubras taciturnas,
é a cor da alegria esperançosa.

Do ódio Ku-Klux-Klan ensandecido
à marcha de um milhão, dos muitos sonhos
cercados de ideais; do pacifismo
de Martin Luther King (I Have a Dream!)
ao grito radical de Malcolm X,
uniu o amor de um povo infeliz.

A terra estarrecida volta os olhos
à imensa minoria, descendente
de escravos sequestrados cruelmente,
mas cheia de organização e orgulho,
mostrou que a determinação termina
por sempre conquistar espaços muitos!

Mas ao mostrar ao mundo uma utopia,
cercar de messianismo um simples homem,
sem ver o mecanismo que isso envolve,
não é o que se deve ter em mente;
e sim por ver na história sobretudo
um afro-americano presidente.

(Paulo Cruz)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Aos amigos imaginários

Aos amigos imaginários

“Considero vantajoso sentir-me um tanto abandonado por parte dos amigos. O silêncio deles é nitidamente proveitoso para mim, porque me obriga a fixar minha vista no meu eu; porque me estimula a aprender esse eu que é o meu; porque me obriga a manter-me fixo na infinita instabilidade da vida e a voltar para mim o espelho côncavo com que dantes procurava abarcar a vida fora de mim mesmo. Esse silencio agrada-me porque me sinto capaz desse esforço e com coragem para segurar o espelho, mostre-me ele o que mostrar o meu ideal ou a minha caricatura.” (Soren Kierkegaard)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Sejamos Piedosos

Sejamos Piedosos
Miguel Garcia

Dizem que o amor enfraquece, mas isso é mentira, o amor fortalece. Dizem que a estética é tudo, que a simetria e os bens temporais são divindades que rejeitam serem contrariadas, mas isso também é mentira, somos mais do que nossa aparência, muito mais do que a matéria que "possuímos".
Sejamos piedosos com aqueles que se refugiam na pura humanidade, com os que brincam de extasiarem-se até o desfalecimento.
Sejamos piedosos com os sedutores de olhos cintilantes, bocas soberbas, sorrisos armadilhosos, dentes lacerantes da cor do marfim. Piedade das pessoas cujos ombros pesam sob a pressão de angustias sem identidade. Jamais invejem ou rivalizem com tais penitentes, piedade, tenham piedade.
Piedade, pois só o amor cria fortalezas. Eis a coluna vertebral dos heróis invencíveis: o amor. Piedade dos que nada dizem, mesmo que falando sem parar – mudos verbosos, dos que nada escrevem, redigindo freneticamente, tais como eu.
Piedade dos que rejeitam amar, dos que se agitam atrás de tudo que se move, sem contudo prenderem-se a nada e a ninguém.
Piedade dos devassos – disso-lutos, daqueles que perderam a firmeza de ânimo, dos abortados de si, dos que já não são, não vivem, não se consideram, dos que só lêem no olhar de outrem, auscultam no escasso indagar coletivo, exprimem refletindo apenas o que é consensual.
Piedade das criaturas belas demais, daquelas que com um físico "ideal", enredam em suas camas, insaciáveis degustadores de emoções fugazes e falsas promessas românticas, piedade dos predadores e presas de um desejo. Piedade dos que enganam sua sede de amor com o sexo, dos incapazes de compreender a si mesmos. Piedade dos que depois de alguns abraços, sentem que precisam ir além, descobrirem-se, “desnudar” outros, daqueles que preferem corpos nus a almas desvestidas, que se velam em orgias pra não serem quem são na verdade, piedade.
Piedade dos que adoram falsas divindades, pois contornarão todo o mar da existência em vão, esperarão da vida o que ela lhes negará, e, essa espera absurda, esse tolo “objetivo” é sua paixão, o adiamento idiota que os impede de viver, é a vida deles sendo disperdiçada.
Por que será que a humanidade torna vazio o que está cheio?
Piedade de mim, descobri-dor de que amar se faz urgente!
Que eu jamais balbucie de horror, em “inferno” algum, a canção que aprendi noutros tempos e lugares... lá onde e quando eu era um menino-deus:

Só uma coisa me entristece
O beijo de amor que não roubei
A jura secreta que não fiz
A briga de amor que não causei

Nada do que posso me alucina
Tanto quanto o que não fiz
Nada que eu quero me suprime
De que por não saber ainda não quis

Só uma palavra me devora
Aquela que meu coração não diz
Só o que me cega, o que me faz infeliz
É o brilho do olhar que não sofri
(Sueli Costa / Abel Silva)

Juízo Final

Juízo Final
Miguel Garcia

Eis que a serra elétrica está posta à raiz das árvores, toda árvore que não produz fruto será transformada em combustível, toda negatividade arbórea: não sombra, olor, folhagens, não flores colorindo - não frutos de beleza, todo não sustento vital à alma passante e desejosa de outrem.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Re-parei

Re-parei
Miguel Garcia

Raparei nas cigarras e no passaredo, como cantam...
Reparei na sinfonia sibilante, timbres de gumes afiados, linhas e sombras sonoras - desenhos rítmicos e melódicos, traçados capazes de despertar de um sono mórbido um egoísta... reparei nas pequenas aves, na incessante ação de graças vespertina, no fretenir dos insetos durante a estação calma, em como bendizem a Causa de si mesmos e do resto do universo, reparei na simplicidade e satisfação de seus atos por vezes delicados, por vezes eufóricos, quase nunca silentes – nervosismo de atores responsáveis... Reparei nos cantos-ecos de alegria à Alegria sentida... Reparei na felicidade a mais, para um mais de felicidade.
Reparei que as apoucadas criaturas não escondem o deleite de receber, menos ainda, o regozijo de serem alegres: sua gratidão.
Foi então que tornei-me discípulo dos astros cantadores, como uma Fênix renascida das chamas infernais da solidão, ressurgi...
Eu que até então imaginava ser útil denunciar vícios, o mal, pecados, acusar e expor delitos, como um louco encantado com o falso poder que essa tola obsessão promete. Minha moral era a dos tristes, triste moral... Nunca mais serei o mesmo, pois a sabedoria das criaturas "inferiores” - a incrível habilidade de serem gratas e felizes, essa virtude latente e contagiosa, como uma bússola, revelará o Sentido do existir, para que eu não mais me perca de mim, naufrague e me afogue na imensidade gelada do orgulho, presunção e desamor.
Reparei que já não sou o mesmo...

domingo, 2 de novembro de 2008

Circu-lar

Circu-lar – carta a uma amiga
Miguel Garcia

Conte com a gratidão desse náufrago que tenho sido, desse descobri-dor do mar Mineiro, da ilha lavrense...
Faço questão de beber cada verso seu com a “sede dos marujos, lavando os olhos sujos de um mar, de embarcações”...Contemplo em meus olhos cansados uma ampulheta de sonhos e desejos quase vazia... eis que tudo se faz silente como na eternidade, já não me dou ao luxo de desperdiçar nenhuma gota de afeição, nenhum breve vapor de ternura e delicadeza. Tudo se me afigura urgente, vital e único, ao mesmo tempo em que ao contrário: tedioso, circu-lar e necessário... Ao que tudo indica, me despeço com brandura na silhueta da face negra e marcada, na leveza de gestos derradeiros... Que seja um adeus refletor de toda luz que incidiu sobre minha existência tumultuada, porém repleta de aventuras - doces e amargas aventuras (sou grato por ter nascido!)... emocionante navegar nos seus versos...

“...A vida então quer ser amável
Decerto faz muito sentido
Carrego dor suportável
Sou grato por ter nascido “... (Joyce e Fatima Guedes)