terça-feira, 21 de outubro de 2008

Édipo, Paulo e eu:

Édipo, Paulo e eu:
Miguel Garcia

Miseráveis homens que fomos! Quem nos livrou da lógica mortal do desejo? Da autopunição e suicídio lentos, da cegueira espiritual, do exílio voluntário, da "queda" na noite sem fundo -
purg-ação contínua, da negação do conforto uterino - devaneio sagrado, da lembrança constante de uma culpa impostora, fustigando com açoite, sem carecer da intervenção divina?

Transgressores patológicos que fomos! Quem nos livrou do estigma social, e das sanções de deuses imaginários? Quem nos praguejou com a sina de sermos heróis, membros da aristocracia ou filhos de uma divindade? Nossa vontade se baterá contra qualquer "ordem suprema" que exibir nossos limites, fazendo com que o sofrimento se torne o tortuoso caminho do conhecimento.

Miseráveis vitimas que fomos! auto-poiéticos, sombra-de-sombras, condenados à liberdade maldita ecoando na cabeça, decifradores de enigmas sem prêmio ou consolo algum, obstáculos entre Deus e o resto da humanidade.

Obscuras criaturas que fomos! Quem desvendará nossa identidade?
Um dia defronte da própria consciência que será que diremos?... Digam os sabedores de tudo sem recusas ou resumos: quem somos nós?... Somos aqueles a quem procuramos? Eis o círculo trágico se fechando perfeito, inexorável. Horrorizados vazaremos nossos olhos, lacrando o acesso aos segredos proscritos. Sigam-nos olhares compassivos! enquanto deixamos reinados de clarividência, amor e poder, pois nossos "crimes" exigem "punição" - a punição de sermos nós mesmos.


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