quinta-feira, 24 de julho de 2008

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Mãos vazias - consagrado ao amigo poeta Paulo Cruz, por ocasião de seu aniversário!
Miguel Garcia

Reparei que mais se diz emudecendo.
Que a ausência de ruído fomenta a audição.
Reparei que a distância aproxima,
Que a solidão acompanha,
Que a omissão favorece,
que um segredo revela,
que o taciturno é transparente.

Reparei que o saber arrefece.
As certezas limitam,
Que a cegueira ilumina,
possuir extravia...
Reparei no absurdo do amor
No terror do silêncio
Na feiúra humanal,
esse medo de avizinhar-se...
Na fria reserva de abastados imprudentes,
condescendência fingida...
No abandono de um pacto...
Reparei nas vilezas...
Minha existência negada...
Reparei nos discursos,
aulas brilhantes,
crônicas poemáticas,
da lua e sol se servindo,
aos centos espalhando estrelas,
fogo e água, rochedos, bosques,
pássaros abundantes,
do bastidor no acanhado espaço,
a criação inteira se descobre...
Um misantropo não se mani-festa.
Por defeito orgânico ou acidente de pecado, é mudo, inibido.
Apesar dos disfarces na linguagem,
não produz som algum que acalente a alma suplicante com ondas curativas...
Reparei que lançar-se por sobre um desejo e apalpar
é tarefa de mímico - persistir de mãos vazias.

Um comentário:

Paulo Cruz (PC) disse...

Um poema é a consciência humana em forma de linguagem. "É um ser de linguagem", disse Décio Pignatari.

Por certo, dizes em célebre verso que "um misantropo não se mani-festa".
Mas você se mani-festa, Miguel Poeta, porque é extravasa a visão dos medíocres e medica a visão dos mendicantes de alma.

Lindo presente, lindo poema!

Muito obrigado!
Abraços afetuosos,
Paulo Cruz.