quarta-feira, 25 de junho de 2008

Carta Arreganhada aos: Tartufos ou Histriões?

Carta Arreganhada aos: Tartufos ou Histriões?
Miguel Garcia

A vocês que dizem o que é o bem... e por conseqüência o compreenderam. Quando em seguida vão agir, vê-los cometer o mal...
Que cômico infinito! O cômico infinito destes outros, comovidos até às lágrimas a ponto de como suor elas lhes caírem a cântaros, capazes de ler ou escutar horas e horas o quadro da renúncia a si mesmos, todo o sublime de vidas sacrificadas à verdade – e que um instante depois, um, dois, três, uma pirueta! Os olhos ainda mal secos, e ei-los que já se afalfam, segundo as suas pobres forças, a ajudarem ao sucesso da mentira!

Ainda o cômico infinito de um discursador, que, com a verdade do acento e do gesto, comovendo-se, comovendo a outrem, faz calafrios pela sua pintura da verdade e desafia todas as forças do mal e do inferno, com um aprumo de atitude, um topete do olhar, uma justeza do passo, perfeitamente admiráveis – e, cômico infinito que ele possa quase logo, ainda com quase toda a sua atitude, escapulir-se como um covarde ao mais pequeno incidente!

O cômico infinito de ver alguém que compreenda toda a verdade, todas as misérias e pequenezas do mundo etc., que as compreenda e seja incapaz de as reconhecer! Visto que, quase no mesmo instante, esse mesmo homem correrá a envolver-se nessas mesmas pequenezas e misérias, para delas tirar honras e vaidade, ou seja, reconhecê-las.

Oh! Ver alguém que jura ter se dado conta de como Cristo caminhou sob a aparência humilde de um servo, pobre, desprezado, objeto de escárnio, e, como dizem as Escrituras, sob os escarros, e ver esse mesmo homem ocultar-se cuidadosamente nesses lugares do mundo onde se está tão agradavelmente, aninhar-se no melhor abrigo. Vê-
lo fugir com tanto receio como que para salvar a sua vida, à sombra da direita ou da esquerda, da menor corrente de ar, vê-lo tão bem-aventurado, tão celestemente feliz, tão radioso, transbordando gargalhadas-Fiodorísticas – sim, para que nada falte ao quadro, é-o a tal ponto que sua emoção o leva até agradecer a Deus – tão radioso pela estima e pela consideração universais! Quantas vezes não disse comigo em tais ocasiões: Kierkegaard, Kierkegaard, Sorry! O-Buraco-é-mais-embaixo- Kierkegaard!

Será possível que pessoas assim se dêem conta daquilo que elas mesmas afirmam darem-se conta?

Tanto saber e compreensão permanecendo sem ação sobre a vida dos homens, vida na qual nada se manifesta do que compreenderam, antes pelo contrário! Frente tal discordância, tão triste quanto grotesca, exclama-se involuntariamente: mas com que diabo é possível que eles tenham compreendido? Aqui o velho ironista e moralista responde: não te fies nisso, meu amigo. Eles não compreenderam, de outro modo a sua vida exprimi-lo-ia, e os seus atos corresponderiam ao seu saber.

Tantas aulas brilhantes quase sempre frustrantes, não por serem brilhantes, mas por serem aulas metodologicamente expositivas e não discursivas, eliminando abordagens indagativas – “senta que lá vem história!”.

Tudo é quimera! O Cristianismo está deturpado e os ensinamentos de Jesus esquecidos e destruídos!

“Todavia o desesperado não faz se não contemplar-se, pretendendo assim conferir aos seus empreendimentos um interesse e um sentido infinitos, quando é apenas um fazedor de experiências – ladrão do fogo roubado aos deuses por Prometeu” Kierkegaard

Adaptado do texto de Søren Aabye Kierkegaard – O Desespero Humano e compartilhado com todos vós. Azar o vosso!! Rsrsrsrsr..

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