terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Ave-Mãe

Ave-Mãe
Miguel Garcia

“ Jerusalém, Jerusalém... ...quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas... Mat 23:37


A Ave-do-céu absorta em cuidados parentais, em ardente dedicação aos filhotes benditificados, ampliando o resultado feliz da reprodução da espécie concebida.

Cuidados parentais de quem mesmo antes de fecun-dar mundos, versejar jardins, tramar ninhos, compor a rima das tocas e outros abrigos para suas crias bem-aventuradas ou ovos cheios de esperança, sonhos que cantam, dançam e fazem alvoroço por estarem loucos de vontade de nascer, fez de si mesma uma oferta, um sacrifício.

A Ave-Sagrada encubando... voltada sobre a gênese de tudo, resguardando do frio e da solidão, emanando calor permanente, alinhado quimeras... rejeitando a mentira da morte... do insonhável...

Cobrindo ninhos com penas, folhas secas ou gravetos de suas providências, condicionando as estações, o clima, interpondo-se entre ventos ferozes, tempestades predadoras, raios de estrelas afiados - garras de luz abrasadoras feito chuva ígnea. Sobre o objeto de seus afetos, incide sentimentos.

Ave Materna/Paterna nutrindo e energizando tudo, escudando a vida num abraço ligeiro de suas asas. E a vida suspensa em galhos do tempo, plantada e limitada feito vegetal lenhoso cujos ramos saem a certa altura do tronco, num esforço desesperado de moverem-se até a linha do horizonte para então mergulhar no infinito.

Ave Sublime, abrigo e proteção contra ameaças destrutivas angustiantes.

Ave Mãe engravidante, fluido nutriente de tudo. Gest-ação num mar de delícias e prazeres azuis. Maturação que rompeu a sucessão de dias até dár a luz aos habitantes da escuridão total na eclosão da vida.

Ave-Mãe de lactações abundantes como fonte de néctar quente e aprazível. Vital elixir da cor do alabastro. Líquido que flui e escorre, tomando a forma dos vasos que o contêm, para logo em seguida transmutar-se em habilidoso co-escultor da humana-obra-de-arte.

Ave vigilante e defensora de sua ninhada, agressiva contra invasores, descortinando as intenções de todos... vendo ao longe, com o típico olhar que o sol lança sobre as águas, atravessando...

Pássaro excelso, magnífico, que até mesmo a tristeza faz saltitar com o canto que alinha a beleza de tudo. Logos das notas musicais, anelante do movimento rítmico das figuras e sons - esferas celestes dançarinas e amantes da poesia que en-canta... épicos poemas de nossas manhãs, tuas odes... “E eis que tudo era bom”!...

Fomentador de nosso existir... é de Ti, e apenas de Ti, que desejamos nos fartar sempre e abundantemente.

Amém.

Nenhum comentário: